1419. Um assovio mais baixo
que um sussurro e mais alto que o respirar, contínuo e constante como uma águia
que encontrou a corrente infinita dos ventos. Som de eternidade, como uma
canção de ninar que os anjos compuseram para o bebê que não se tornará criança.
Por que deixaste-me ouvi-la, Senhor?
1420. Excesso de prudência é
imprudência.
1421. O fanático é um fã da
ação lunática em favor da causa. O radical é alguém cuja alma está radicada na
causa.
1422. Os homens que almejam
ser simples e modestos: Deus os faz grandes.
1423. Chupar uma bala ao
invés de escovar os dentes, borrifar perfume ao invés de tomar banho. É isto o
que faz o hipócrita.
1424. Afio-me no desafio,
desfazendo o fio da moira.
1425. Das entranhas da
terra, o grito me estremece como o pálio pelo vento assoprado. Telúrico
pensamento de ser constante e inconstante, como a rocha que o martelo
esmigalha.
1426. A montanha de cume
branco, cujo ventre carrega o abismo de fogo. Como age o diabo, “O Um Anel”:
alfabeto élfico e língua de Mordor. O superficial do Bem e o conteúdo do mal.
1427. Nós já fomos, de certa forma, enterrados. Células nossas, pele, cabelo, já foram para o túmulo. Nos velórios, enterros e funerais dos quais tomamos parte, qualquer partícula do nosso físico (no abraço, no aperto de mão ou repouso dela no defunto, nas flores, no véu, enfim) se pegou ao morto e ao caixão do morto e com ele virou pó, o pó deitado da morte.
1428. Alguém disse que “a
coroa do rei está sobre sua cabeça, não sob seu coração.” Guardo aqui.
1429. Por que eu pisaria
numa formiga?
1430. Abdução é a farsa
demoníaca do arrebatamento.
1431. Enquanto uns se
guardam, outros aguardam. Enquanto outros se poupam, outros apalpam.
1432. Os covardes rugem
miados. Os corajosos, precavidos, miam rugidos.
1433. Missionário não cria
heresia. Teólogo cria. Arival dixit.
1434. A causa da natureza
(efeito) é sobrenatural.
1435. Apenas a assinatura
falsa é “igual” à original.
1436. O amor é pegajoso e
pesado, mas vem o Pégaso alado e o enleva como pena.
1437. Até o aço, bem
aquecido, desfolha sob o martelo.
1438. Os crentes andam
morrendo no Domingo.
1439. A inveja e o ciúmes se
encontraram e se beijaram.
1440. Grande não é quem é
grande. Grande é quem obra grande.
1441. Só se idolatra aquilo
que se conhece superficialmente.
1442. A sarça ardente estava
acesa nos fornos crematórios dos campos de concentração.
1443. No final é sempre o
fim.
1444. Se Deus é contra nós,
quem será por nós?
1445. Todos e todas as
coisas são frágeis. Até o machado de bronze sangra.
1446. Poder às vezes não é
tão prazerosos quanto querer.
1447. Isto de dizer amor,
sabes? É de corar a alma, alargar sorrisos, beijar a testa das estrelas,
esperar assovios das flores, levitar com frases, lustrar silêncios, amar.
1448. Os homens que regem a
Igreja não devem governar o Estado. Os homens regidos pela Igreja devem
governar o Estado.
1449. Que alma rubra, /
Que alba negra, / Leva a nação / À uma guerra? / Que é a bravura / Quando pedem
trégua?
1450. Adolf Hitler não
gostava de pérolas. Dizem que as odiava. Isso deve lá querer dizer alguma
coisa…
1451. Outro dia, tentando
traduzir do hebraico um manuscrito cabalístico do século VIII, li isto: “Deus
tem asas azuis, para que voe invisível no céu.” Agora à tarde, no
supermercado, uma menininha de no máximo 6 anos disse pra mãe: “Deus
deve pintar as asas de azul para não ser visto.” É por isto que digo:
o gênio autêntico, cheio de beleza e realidade, se esconde justamente nos
cérebros mais ingênuos.
1452. A inconsistência
interna via de regra procura solidez nas aparências externas. A falta interior
sempre tenta se compensar no excesso exterior. Daí estes fenômenos de tatuagens
intermináveis, corpos excessivamente malhados músculo a músculo, apego
desmedido e ostentatório à marcas e grifes, etc. Falta imaterial dentro cria
presença material fora. São fenômenos do ego, da auto-estima, em termos
psicológicos. Espiritualmente, é idolatria. Essa moça que tatuou o Bolsonaro e
os lemas de sua campanha pelo corpo está doente: precisa de divã e altar. Orem
por ela ao invés de incentivá-la ou ridicularizá-la (ambas atitudes idiotas).
1453. A verdade não é mera
descrição formal da realidade. Ela é sua própria força de manutenção. De modo
que a mentira, então, não é uma simples oposição abstrata à tal descrição: ela
é um enfrentamento energético, adverso e dialético à toda a estrutura do real.
Cada vez que uma mentira é contada, uma tensão comprime e desestabiliza a
própria realidade, deformando-a temporariamente. Esta tensão, porém, cria uma
força de recuo e oposição, como numa mola, cuja potência necessariamente contra-avança
em direção à mentira a fim de rearmonizar e reequilibrar a realidade. Esta
restabilização é, não raro, explosiva, traumática e, nas palavras do Evangelho,
“causa de escândalo.” Por que? Porquê, como dizem os franceses, “Chassez
le naturel, il revient au galop” | “Expulsai a natureza, ela voltará
à galope.” São Paulo apóstolo resumiu a força restabelecedora da
verdade ao ensinar que “nada podemos contra a verdade, senão pela
verdade.” A verdade é a super-estrutura do super-ser da realidade. A
mentira é uma inadequação artificial que não se encaixa perfeitamente e, por
isto, como micro-engrenagem, dura até que o macro-maquinário lhe estoure.
Mentir é ofender este organismo cujos anticorpos (os acontecimentos) logo
tratarão de esmigalhar a folia e o folião, a fantasia e o fantasiado, a farsa e
o farsante. Deus é o pai da verdade. O diabo, o da mentira. Deus criou tudo. O
diabo, quer recriar o nada. A força que o cosmos ordenador exerce sobre o nada
caótico é a mesma força que a verdade exerce sobre a mentira. Tudo isto para
fazer voz uníssona com o caipira e berrar: mentira tem perna curta! Mas não é
que ela tenha por si perna curta: é que, Procusto às avessas, vem a verdade e
amputa a perna-de-pau até o limite sanguinolento do cotoco…
1454. Que o teu sim seja o
teu sim. Que o teu não seja o teu não. Isto basta.
1455. O sono não só descansa
o corpo: ele purifica e desembaraça nossa consciência. Não é raro que eu acorde
de repente tendo os meus “eurekas!” — conclusões certeiras e límpidas
sobre as coisas e as pessoas; conclusões que, acordado, talvez eu não atingisse
em nível de compreensão, argúcia e racionalidade. Quem realmente se importa com
a existência trata dela consigo mesmo até quando ronca. Dorme e pensa. Pensa e
acorda. Acorda, repensa e faz. O sono esclarece a psiquê, ilumina a vigília do
inconsciente, anima a alma à realidade.
1456. Toda mulher, da mais
santa à mais iníqua, tem o desejo da aventura no coração. Desejo legítimo.
Portanto, trate de ser um pouco Dom Quixote, um tanto 007 e um quanto Indiana
Jones. Depois não fique por aí (e por aqui) reclamando se um Frestão, um Dr. No
ou um Belloq levar a morena para brincar de tiro-ao-alvo nalgum moinho de vento
jamaicano. Dispierta, fierro!
1457. Nunca ocupe um lugar
que qualquer outra pessoa poderia ocupar. O chão e o galho são para qualquer
ave, mas o pico da montanha pertence à águia. As pombas, os pardais e os
abutres dividem presença no mesmo solo em qualquer lugar do planeta. Mas quem
sobe e plaina sobre o cimo do Everest? O que é só teu tem a medida exata do teu
espírito. O que é para qualquer um, cabe em qualquer um. O homem ordinário em
tudo se iguala aos outros. Mas o homem que arrasta após si as gentes diverge,
diferencia, desiguala: ele afirma a força da própria personalidade e constrói
com Deus o seu lugar no mundo.
1458. Não há salvação com
idolatria. E nós temos as nossas pequenas idolatrias, nossos ídolozinhos. Temos
que perdê-los ou vê-los de alguma forma perecendo para não nos apegarmos a
estes “amuletos da existência”. Você gasta horas polindo seu carro?
Uma batida na esquina vai colocar a lataria dele no lugar devido no seu
coração. Você exibe para os outros ou para si mesmo seu novo iPhone? Ele vai
cair na piscina ou a tela vai se partir todinha no chão. Você olha em demasia
para seu novo relógio? Ele vai ganhar meia dúzia de riscos profundos na caixa.
Você se jacta da sua coleção de livros, vinhos ou bibelots? Uma página vai se
rasgar e uma gota de café (ou a garrafa toda) vai manchar a obra magna; uma criança
vai derrubar as safras intocadas de 1961 e 1989; um cachorro vai pular sobre a
cristaleira: todos instrumentos de Deus para lhe afastar daquilo que não é
essencial, daquilo que não é a Realidade, daquilo que lhe afasta das coisas do
Alto. Você precisa perder seus ídolos e ver o quanto eles são frágeis. E você
vai perdê-los todos, um a um.
1459. Quem faz as contas de
perdas e ganhos quando deve decidir sobre certo e errado, já se decidiu
moralmente pelo errado. Uma pessoa digna sempre decidirá pelo certo, ainda que
cortando na própria carne, ainda que sendo tomada por “errada.”
1460. Estejam conscientes de
que vamos criar filhos ingênuos para um mundo malicioso. Saibam que eles serão
bobos diante da esperteza dominante, que eles serão inocentes num meio velhaco,
que eles serão ovelhas entre lobos. Mas… ainda assim, nós colocaremos no
mundo meninos e meninas que serão homens e mulheres honestos, regrados e de
olhos brilhando do berço à sepultura. Teremos filhos que vão sofrer mais do que
nós e nossos pais sofreram, porquê o caminho estreito ainda mais se estreitará.
Mas a terra ainda terá em si plantada um pouco da carne e do sangue que foram
feitos para o Céu.
1461. O Bem não é fácil. Mas
é o único caminho possível.
1462. No amor (com a mulher,
com Deus, com os pais, com os amigos), todo diálogo é mais confissão do que
conversa.
1463. Se você realmente
entregou sua vida a Deus, você não pode reclamar e se preocupar permanentemente
com aquilo que acontece nela. Alguém te injustiçou? Então, injustiçou a vida
que você entregou a Ele. Te enganou? Enganou a vida que você entregou a Ele. Te
roubou? Roubou da vida que você entregou a Ele. Não se ofenda pralém do
razoavelmente natural, nem busque retribuir vingativamente. Entregue-se à
Providência e descanse. Se a sua vida já não é propriedade e possessão suas,
mas dEle, você não tem um único porquê para reclamar e se preocupar. Deixe tudo
com Ele.
1464. Utilidade pública: no
mundo emocional feminino, raiva é uma forma de sinceridade.
1465. Há tantos cristãos que
de Jesus só conhecem o nome… Conhecem muito o Cristianismo católico e sua
liturgia, o pentecostal e seus gritos, o reformado e sua equação teológica, o
ortodoxo e sua mística, mas desconhecem o próprio Senhor. Nada de amor, de
piedade, de paz, de renovação, de justiça, de misericórdia, de santidade. Só
religião: só um Cristo de crucifixo, de curandeirismo, de racionalidade, de
sentimentos. São crentes na própria crença. Não têm fé viva na Pessoa e suas
obras são piores que as do mais vis descrentes. Melhor seria que fossem ateus
sinceros e incrédulos éticos do que sectários infames.
1466. A voz é a substância sonora da personalidade. Há uma simbiose inter-causal entre ambos.
1467. Haja o que houver,
mantenha-se fiel: a Deus, ao cônjuge, a si mesmo, ao amigo, à fé.
1468. Assim como não se
escuta Bach ou Mozart em boteco, não se procura por casamento em balada.
1469. Desfruto do silêncio
de Deus como quem em sua surdez vê o movimento e enxerga a mensagem através dos
lábios do pai e da mãe dizendo um inconfundível “Eu te amo, filho!”
1470. Gente que em tudo põe
“panos quentes” geralmente tem a alma fria. Apaziguadores radicais,
cuja missão é fazer com que os corretos engulam sapo a fim de manter o ambiente
aparente e falsamente “em paz”, são o pior tipo de gente. Os governos
corruptos estão lotados de pessoas desse naipe. Indivíduos falsos, destituídos
de carácter e compromisso com o justo — querem a harmonia do “céu”
no inferno.
1471. Toda vez que vejo
alguém empinando o nariz, lembro da sentença bíblica: “a soberba
precede a ruína”. A arrogância leva ao buraco: o orgulhoso sempre cai.
1472. Utilidade pública pros
zé-manés: mulher não respeita homem que ela pode controlar e não ama homem que
ela não respeita.
1473. Essas mulheres que
alimentam gatos e cachorros de rua, que correm pra cima e pra baixo tentando
salvar algumas das criaturas de Deus, elas não são loucas, nem fanáticas, nem
zooxiítas, nem luísas-mell-desequilibradas. São só pessoas boas. Não são
“velhas dos gatos” (como aquela dos Simpsons) inspiradas por
estorinhas de São Francisco de Assis. São gente que faz o que todo mundo
deveria fazer: cuidar do mundo com mais carinho.
1474. Se você se esconder,
perderá e não fará História. Mas se você se expuser, ganhando ou perdendo, terá
escrito ao menos uma página só sua.
1475. Se o ambiente envenena
sua alma, ou você muda o ambiente ou muda de ambiente. Só não fique como está:
o preço é adoecer.
1476. Não ajude desleais.
Gente ingrata merece aprender, sentada solitariamente na privada, que “dor
de barriga não dá uma vez só.” Não se estende a mão, consecutivamente,
à pessoa de caráter fajuto.
1477. Há uma imensitude de
homens que são heterossexuais quanto ao tesão, mas que são tremendamente
homoafetivos no aspecto sentimental: eles gostam muito do peito, da bunda, da
coxa da fêmea, mas não do coração, da mente, da alma da mulher. São amigos dos
amigos, mas não da própria namorada; são companheiros dos companheiros, mas não
da própria noiva: a amizade e a companhia da esposa não interessam. Intimidade
com ela só na cama, mas nada de papo no sofá, porquê o sofá serve apenas à
algazarra do futebol na tv com os colegas; e a mulher ali só vai aparecer
quando ele gritar um “traz a cerveja, meu bem!”. Fisicamente,
tudo másculo. Metafisicamente, pouco varonil. Não: o cara não quer casar com o
amigo do colegial e com o companheiro do carteado. Não: o cara não é viado, não
é frutinha, não é atraído em nada por seus iguais — sua líbido caminha pelo
bom caminho da natureza. Mas o cara só quer ser uma só carne com a mulher
apenas na própria carne da mulher, enquanto é psiquicamente íntimo dos outros
homens com os quais resolveu compartilhar sua vida. A turma da sinuca, a equipe
do trabalho e o pessoal do RH sabem mais dele do que aquela que ele levou ao
altar. Ele é grosseiro com aquela que lhe é apenas uma dona-de-casa com quem
transa, mas é uma seda com a tropa. Ele é calado com aquela que lhe é apenas a
mãe-dos-seus-filhos, mas fala pelos cotovelos com o bando. Boa parcela dos
casamentos que por aí dão errado estão baseados nisto: o homem só quer saber da
vagina e de todas essas delícias da cornucópia feminina, mas não suporta passar
tempo (em silêncio ou com diálogo) junto à própria esposa porquê prefere ser
extrovertido, conversador e gente boa no boteco junto a um bando de homens
igualmente heterossexuais no corpo mas muito pouco machos no seu tesão pelo ser
profundo da mulher.
1478. Espanta a quantidade
de gente com formação universitária incapaz de ler e interpretar um post no
Facebook. A quantidade de diplomas parece inversamente proporcional à
capacidade cognitiva: quanto mais graduado, mais cheio de mi-mi-mi
hermenêutico. Graças a Deus o povão lê e entende. Por que? Porquê a gente comum
não perdeu o senso comum e quando lê “bola” entende bola e não
qualquer outra coisa que transcenda à bola, com massa ou sem massa, com 360o de
circunferência ou não. A postura vaidosa e tarada por complexificar o simples é
hoje marca distintiva dos nossos letrados com Ensino Superior. Eles
transplantam chifres em cabeça de cavalo e aparam os pêlos do ovo: vivem de
abstrações projetadas, de quimeras tão emaranhantes quanto artificiais. Por
outro lado, quão mais proveitosa, fecunda e sensata tem sido a conversa com
tantos e tantos analfabetos que encontro por aí! Não à toa o próprio Cristo
afirma que ocultou a Verdade dos grandes (doutores, ricos e poderosos da terra)
e a revelou aos pequeninos.
1479. Você não ama aquilo
que você não protege e não defende, seja sua mulher, sua fé ou sua coleção de
figurinhas. Se você deixa a moça sozinha contra a agressão, se você permite que
blasfemem do divino, se você cruza os braços quando rasgam a estampa: você não
ama. Você usa, você instrumentaliza, você manuseia e… só ama egoisticamente a
si mesmo.
1480. Em nome de Jesus há
crimes e pecados sendo cometidos. É dever de quem o ama denunciar isso. Edir
Macedo, Malafaia, Agenor Duque, Estevam Hernandes e tantos outros blasfemam e
lucram, mentem e lucram. Bandidos de terno e gravata, nas igrejas e na
política, fazem do Cristianismo motivo de chacota pública e causa de ganho
pessoal. O Cristo vendido nas televisões em nada se parece com aquele que
encontramos nas páginas sagradas. É antes um banqueiro de Wall Street, um
cafetão da fé, um Dr. House divino: é qualquer coisa mais parecida com o
próprio diabo que com o Senhor e Salvador dos homens. Não! A Fé não está na
Record, na Band ou RedeTV. Não! O Evangelho não está disponível por dízimos e
trízimos, por sacrifícios pagos à vista ou parcelados no cartão de crédito.
Não! Jesus Cristo não é um boneco instruído pelas mãos de apóstolos e bispos
sem missão e serviço que leiloam milagres e lugares do Céu. Não! Não! Não!
1481. A “Marcha Para
Jesus” é uma ação midiática neopentecostal, cujas igrejas a criaram e a
patrocinam. É uma demonstração de força e poder político, econômico e social da
chamada “Teologia da Prosperidade”, que nada tem a ver com o
Evangelho de Jesus Cristo. Igrejas evangélicas sérias (reformadas, sobretudo)
não participam. Cristãos comprometidos com o Reino não marcham histericamente
com heréticos como Valdomiro Santiago e Estevam Hernandes. Quem ama a Deus não
o prostitui com César. A “Marcha Para Jesus” não é cristã: é pura e ímpiamente
pagã.
1482. Na bonança todos os
homens parecem-se bons. Mas o homem verdadeiramente bom o é quando os tempos
lhe forçam e induzem a ser mau. É na resistência, em provação, que um caráter é
realmente conhecido.
1483. O homem bom sempre
parecerá contraditório aos olhos do homem mau.
1484. O amor, e não a beleza
em si com seus agrados aos sentidos, está no centro do bem — da vida. Não me
canso de recordar que o mesmo Deus que criou os querubins criou também a
barata; criou tanto o cavalo (que o Mário Quintana dizia ser o mais perfeito
animal) e a borboleta quanto a hiena e o urubu; criou a fragrância de todas as
flores e também o odor dos gambás, da urina, da flatulência. Se a gente
investigar direito, todas essas coisas, todas as coisas, “colaboram
conjuntamente” para nosso bem. E quanta “feiura” com seus desagrados não
nos tem feito bem!
1485. Aqui só tem eu. Sem
personagens. Somente eu: bruto, mas sou eu e não outro.
1486. Torcer para que as
coisas piorem é desde sempre o desejo do diabo. “Quanto pior, melhor”
é a ideologia do inferno. Cuidado para que a vitória da sua causa não dependa
da derrota dos outros. Cuidado. Uma coisa é ter opiniões duras, críticas e
mesmo pesadas; outra é despistar o próprio ódio com elas.
1487. Não consigo ver folha
de árvore como sujeira. Lixo enfeia. Folha, verde ou seca, embeleza.
1488. Não chame de amigo a
qualquer um. Amigo é coisa boa, grande, do peito. A maioria é apenas gente com
quem circunstancialmente se convive(u) e só, e nada além, e nada mais. Olhe
para sua mão: seus amigos não superam o número destes dedos aí.
1489. Que o amor de Deus
supere em você todas as antipatias e todos os ódios ocultos ou declarados. Que
o amor de Deus o livre da escravidão da auto-justificação e do espírito de
vingança sempre latente. Que o amor de Deus abunde em seu coração e você perdoe
tudo a todos.
1490. Perguntei pessoalmente
a 23 pessoas, durante dois dias: “qual seu objetivo supremo na
vida?” Ninguém disse: “quero o Céu!” Ninguém. [nominalmente,
todos cristãos…]
1491. Eu não pretendo ter
filhos milionários. Quero filhos que amem e sirvam a Deus, ainda que obrando
ofícios simples e trabalhos manuais. Não desejo que eles sejam homens de renome
mundano nem que ganhem aplausos e fama. Desejo que eles sejam recordados por
Deus na oração e tenham um lugar no Céu. Não espero ter filhos para o mundo.
Espero ajudar a povoar o além. Toda a vida é redefinida a partir dessa
perspectiva. Esta é a minha e pretendo mantê-la a despeito de qualquer
dificuldade: criar dignamente meninos e meninas para serem homens e mulheres
dignos. Não quero um “menino Ney” parido pra existência. Prefiro um
zé-ninguém com brilho nos olhos e consciência pura. O resto é lucro e está nas
mãos dEle.
1492. Nada fica encoberto,
seja você o Neymar ou o rei Davi. Piriguete de WhatsApp ou mulher de general, o
praticado em oculto sempre será revelado. O “crime” não compensa. Nunca compensa. Está
na Bíblia e também lá na célebre canção de Leonard Cohen: “She tied you
to her kitchen chair / She broke your throne and she cut your hair / And from
your lips she drew the Hallelujah.” A vergonha do pecado
mancha as biografias e as almas, sob o preço final dum assassinato ou da
derrota numa Copa do Mundo… Nossa geração precisa urgentemente redefinir quem
são seus “heróis”, quem é digno das nossas palmas e celebração.
1493. Beleza sem conteúdo é
batata frita sem sal. Sem graça.
1494. A vida do Gabriel
Diniz, do mendigo sob o viaduto, do Príncipe de Gales, da balconista da
padaria, da minha amiga Florinda que faleceu ontem à noite, do líder da
oposição japonesa, enfim, qualquer vida e a minha e a sua vida, têm diante da
soberania de Deus o mesmo valor: nenhum. A mídia mais fala e mais lamenta a
morte conforme a popularidade. Mas o que realmente importa é se fomos ou não
remidos pelo sangue de Jesus Cristo. Importa a salvação. Todo o resto, com ou
sem comoção pública, com ou sem plantão no Jornal Nacional, não passa de
falatório passageiro. Daqui um mês, quem se lembrará do avião que caiu? Daqui à
Eternidade, Deus se lembrará da sua alma? É isto que importa.
1495. Quem em muita
consideração leva a beleza, já está planejando a “troca” no futuro.
Porquê objetifica o outro e objetos perdem a atualidade da moda e envelhecem.
Lei da Entropia, of course. Mas quem é tratado como objeto sabe que é
tratado como objeto e sabe que objetos se trocam; e se não se importa muito com
isso, o faz apenas porquê também trata como objeto; deixando claro que esses
interesses baixos do usar-até-enjoar são mutuamente compartilhados. Pessoas que
são mais coisas que gente primam excessivamente pela estética e, como tais,
sempre quererão atualizar o modelo, a marca, o produto para outros mais
bonitos. Resta saber se você é coisa ou é de corpo, alma e espírito.
1496. Tente ser bom e você
saberá o quanto você é ruim.
1497. Quem não é fiel no
pouco não pode ser fiel no muito. Então, não existe essa de “coisinhas sem
importância”. Ou a gente faz o certo ou faz o errado. Diante de Deus não
existem miudezas morais desculpáveis, justamente porquê são elas que elevam gradualmente
à santidade ou rebaixam pouco a pouco à condenação. O pouco medra o caminho do
muito. Você primeiro cuida de tostões para depois guardar tesouros, primeiro
aconselha um amigo para depois apascentar multidões, primeiro se abstém da
pornografia para depois ser fiel no casamento, primeiro cuida dos rebanhos
escondidos para depois ser rei, primeiro faz a cama para depois governar toda a
casa. Quem quebra as regras “pequeninas” não guarda as grandes. Quem
não se importa com os detalhes da parte não pode viver pelas estruturas do
todo. Quem não toma a gota do remédio amargo não pode beber o doce cálice
inteiro da saúde.
1498. Não existe esse
negócio de “deu valor porquê perdeu.” Esse valor dado a posteriori
não é valor: é a pessoa fazendo contas da utilidade prática do que tinha e
agora já não tem. Valor é dado antes de tudo na presença; na ausência, é apenas
egoísmo bem ou mal disfarçado. Ou o valor é para hoje ou nunca será nada além
de preço romantizado, idealizado. O que existe é “dou valor porquê tenho”.
Tudo aquilo que não fecunda no presente não pode brotar no futuro quando aquele
já for passado. Se ama, ama agora. Se quer bem, quer bem agora. Se preocupa,
preocupa agora. Se importa, importa agora.
1499. O amor está nos
pequenos gestos constantes, nos detalhes. Esqueça os discursos dramáticos, as
performances de ocasião. Há amor no copo de leite quente e açucarado que se
entrega toda a noite, até o fim da vida, pelo marido à mulher que sofre de
insônia. O amor não está no drink de balada do sempre repetível fim de semana,
por gente diferente à outra gente igual. O amor é uma rotina, um dia-a-dia, um
continuar e um prosseguir sem fim. O amor é uma liturgia quietinha que se
aprimora no cotidiano.
1500. COMO LIDAR COM
PENSAMENTOS INCÔMODOS: 1. Nem todos os seus pensamentos são seus pensamentos. O
fato de um pensamento estar dentro de sua mente, e por ela andar e rondar, não
significa em absoluto que a origem dele seja você. Há pelo menos três origens
possíveis: i. humana, ii. divina e iii. demoníaca. Não cabe aqui explicar cada
uma delas (com suas muitas subdivisões e variações decrescentes), mas saiba
isto de antemão: o fato dele estar aí dentro, aí na sua cabeça, não atesta que
o pensamento tenha nascido do seu eu. Todos surgem no seu eu, mas não necessariamente
provêm de você. Ou seja, você não deve se alarmar, sentido-se absolutamente
responsável pelo conteúdo pleno do que pensa; 2. Um pensamento que incomoda é,
antes de tudo, um pensamento que causa algum grau de medo. E porquê você teria
medo de algum pensamento? Geralmente, um pensamento incômodo revela para nós um
problema de auto-conhecimento: se você foge do que pensa, foge do seu eu tanto
positiva (porquê não quer afirmá-lo) quanto negativamente (porquê não quer
negá-lo). Só o mais ou menos desconhecido pode incomodar. Aquilo que conhecemos
com profundidade do nosso eu é inofensivo em termos de incômodo, por mais que
saibamo-lo bom ou mau. Afinal, saber (e conhecer) alguma coisa é, de certa
forma, pelo menos restringir e até mesmo anular seu poder de ação, reação,
afecção e infecção psíquica. Um pensamento que incomoda, incomoda porquê fica
sufocado e reprimido no inconsciente; 3. Daí, segue que a fórmula para acabar
com o poder dos pensamentos incômodos é justamente aceitá-los. Nunca tente
pensar em outra coisa quando um deles aparecer. Jamais mude de assunto ou tente
se distrair para que ele passe e você se esqueça dele. Não funciona se esquivar
da análise. Quanto mais você jogá-los para “debaixo do tapete”, maior
poder eles terão e… logo voltarão ainda mais poderosos e amedrontadores.
Assim que um pensamento incômodo transitar por sua consciência, pegue-o com
força e, exercitando as virtudes da coragem e da força de vontade, enfrente-o.
Jogue luz sobre ele: raciocine, logifique, medite, reflita. Raciocine sobre sua
origem e como e quando ele surge. Logifique sobre seu porquê, identificando seu
estado de espírito no contexto. Medite em toda sua biografia e extraia dela as
respostas causais para as emoções e sentimentos que o acompanham. Reflita sobre
tudo e sobre todos na sua vida, sobretudo acerca de como as coisas e as pessoas
te afetam; 4. Liberte-se do medo de ser você mesmo. Não ceda às quaisquer
pressões do mundo, que quer fazer de você a imagem do caos e a semelhança da
desordem. Você é singular, único, individualíssimo em sua personalidade e
atributos. Estar pronto a viver autenticamente, integrado e unido em si mesmo,
sem prostituir sua natureza mais elevada em nome da aceitação baixa da
multidão, te liberará de um sem número de medos. Seja em tudo espontâneo. Deixe
que o mundo se retraia patologicamente, atemorizado em refletir grandezas que
aqui na terra parecem-se com “loucura.” Que você se levante corajoso
diante da vida. Para tanto, perscrute-se sem medo: para cada possível trauma e
para cada possível ferida há em Deus a “possível impossibilidade” da
cura e da cicatrização. Seja uma equação para si mesmo, seja um pensamento para
si mesmo. Quanto mais você pensar em si mesmo, destrinchando as estruturas e os
detalhes da sua alma, mais você poderá ser você, até que um dia, como Dom
Quixote, olhará para o espelho e, ultrapassando o próprio e fiel reflexo, dirá “Yo
sé quién soy” / “Eu sei quem sou”; 5. Por fim, guarde esta
verdade bem profundamente: você não é o que pensa, primeiramente. Antes de
tudo, você é o que você faz. Pulsões ancestrais com seus atavismos e taras,
sussurros demoníacos, condicionamentos sócio-culturais, falatório do zeitgeist
coletivo, neuroses ambientais e todo o diabo-a-quatro físico e metafísico da
existência e da vida que confluem para seu cérebro, que atam e desatam ligações
neurais entre seu córtex e seu espírito, não são você. Você é o que você decide
conscientemente fazer. Você é seu núcleo livre de consciência. Quando você
descobrir isso, e crer fiel e firmemente nesta realidade, você retomará o
controle da sua cognição e, com ela, tomará mais fôlego em Deus e, juntamente
com Ele, poderá dizer em alta voz: “Eu sou o que sou”. Mas, para
chegar a este estado, é indispensável orar. É preciso que você ore muito, que
você dialogue com Aquele que poderá dizer a você mais perfeitamente coisas que
você mesmo não sabe a seu respeito.
1501. Sabe quando você olha
para certo dia da semana e, por algum descompasso da rotina, ele parece ser
outro? Quando é quinta-feira, mas porquê é feriado ou porquê você ficou em
casa, você sente o dia como sendo um sábado? Sabe aquela sensação de associar
determinada inclinação da luz à tantas horas da tarde de tal dia e uma certa
aura mista (e mística?) de “temperatura-altura-e-pressão” a um jeito
específico dum outro dia de outra estação? Sabe quando você sente cada dia da
semana de um jeito e, intuitivamente, atribui suas características específicas
a outros dias? Penso que quanto ao coração as coisas também sejam assim. Nós
que medimos mais o tempo pelas aparências relativas do peito que pelo
calendário que fala ao cérebro, constantemente projetamos o que está cá do lado
de dentro por sobre o que está ali do lado de fora. E nos enganamos. E
interpretamos mal. Assim como é preciso olhar diariamente para aquilo que nos
diz o calendário, a fim de sabermos aquilo que a data programa para a rotina e
não sermos enganados por um domingo interno que é sexta-feira externa, é também
preciso voltar os olhos para as coisas tais quais elas são no mundo dos
olhares, sob pena de perder-se na sensação de que uma cortesia pega de relance
na íris é ternura romântica, de que certo brilho que outrora tivemos num ser
amado se repete noutro que não nos ama, de que o dantes vivenciado aqui por
mais que na aparência se pareça com o vivido ali nada é senão uma sensação, uma
dissociação entre a prática que os olhos vêem e a teoria que os olhos já
enxergaram. Alguém, acho que um poeta italiano (não lembro quem), disse isto: “Meglio
aggiungere vita ai giorni che non giorni alla vita.” / “Melhor
acrescentar vida aos dias do que dias à vida.” Quanto ao amor, que se
diga o mesmo: melhor acrescentar amor à vida do que vida ao amor. “O
acessório segue o principal”, dizemos no Direito. Olhe para as coisas
sem carências, sem pulsões de querências e sofrências, sem pespegar às
aparências outras essências que não lhes pertencem, sem acrescentar uma existência
à coisa quando é a coisa que deve acrescentar à existência. É sábado do lado de
fora? Que seja sábado do lado de dentro. É amor do lado de dentro? Que seja
amor do lado de fora.
1502. Não há amor maior que
o de Cristo. Antes de se deslumbrar com qualquer “chamego”, olhe para
a Cruz.
1503. Quem tem coração, tem
ao mesmo tempo uma bússola e um maremoto no peito. O mesmo coração que indica o
caminho, rasga o mapa. O mesmo coração que guia para o norte, confunde os
pólos. O mesmo coração que ilumina feito farol, embaça as retinas com neblina.
Quem tem coração tem certeza e, ao mesmo tempo, insegurança; tem convicção de
amor e dúvida de paixão. O que fazer, então, se céu e inferno parecem coabitar
o mesmo pedaço de carne e espírito que pulsa sangue e alma em nós? O que fazer,
já que frio e calor lutam sobre as mesmas veias e emoções, sobre as mesmas
artérias e sentimentos? Escolha para partilhar sua existência e compartilhar
sua vida a pessoa que conseguir alcançar o porto ainda que a noite seja escura
e temerosa. Escolha para singrar o oceano tempestuoso a pessoa que for capaz de
manejar o leme com os olhos fechados, confiando na rota invisível que o
Espírito ensina aos marujos mais valentes. Escolha a pessoa que, contra as
lógicas do naufrágio e as razões do afundamento, nade, nade e nade até que o
sol nasça, até que as águas se acalmem, até que já não seja preciso navegar,
porquê, no altar, terra seca e segura surgiu sob os pés. Aceite que seu coração
vai e vem com as marés. Só não aceite perder de vista o destino da jornada. Só
não deixe de remar, com quem escolher. Esta é a glória da nossa humanidade.
Esta é a glória da nossa fragilidade: temos um coração.
1504. Nenhum tempo é
desperdiçado se você aprende a lição.
1505. Ore para que Deus
arranque da sua vida tudo aquilo que não é real e verdadeiro. E aceite, depois,
o fim das suas “ilusões de estimação.”
1506. 5 PEQUENAS COISAS para
fazer seu dia bem melhor: I. Acorde com boa música. Não use o despertador
padrão do celular, que é o equivalente sonoro do balde de água fria. Instale
algum app despertador de música. Começar o dia ouvindo beleza e arte faz a
diferença. A gente acorda em paz e sem o costumeiro sobressalto traumático que
nos acompanha desde o “mãe, deixa eu dormir mais um pouquinho…!” do
primário. Eu ouço o “Jesus, alegria dos homens” de Bach. Você pode e
deve ouvir a sua preferida, aquela que te faz bem; II. Tenha ritos para as
pequenas atividades. Disciplinar sua escovação de dentes, a troca de roupas e
calçados, a ordem dos ingredientes na receita, a posição dos livros na estante
e de tudo aquilo que embasa seu cotidiano é uma oportunidade para que você se
discipline inconscientemente para as grandes atividades. Se você é fiel nas
pequenas coisas, terá muito mais força quando tiver que executar as grandes.
Quem não consegue arrumar a própria cama com zelo e constância não planeja uma
existência empolgante e frutuosa, via de regra; III. Se você tiver que resolver
pequenas questões domésticas e isso exigir que saia de casa, vá a pé. Procure
caminhar o quanto puder. Olhe pra sua calçada, pra sua rua e pras outras ruas
com atenção. Descubra e aprenda sobre os mundinhos que te cercam. Há crianças,
pardais, pombas, gatos e cachorros. Há florezinhas crescendo nos pequenos
trincos das sarjetas. Há aromas diferentes entre um CEP e outro. Há belezas e
feiuras que se contradizem e se abraçam na Realidade. Se você andar mais a pé,
terá a consciência mais afiada e afinada; IV. Use seu celular (de novo ele)
para fotografar menos a si mesmo e mais ao mundo. O espelho do banheiro e da
academia já estão cansados de selfies. Diminua os auto-retratos e ponha seus
olhos na vida que te segue. Há passarinhos comendo farelos nas praças,
velhinhas na feira, crianças correndo no campinho, o sol nascendo e se pondo no
horizonte, lixo nas ruas (que em preto e branco, pela evocação da Eternidade,
sempre fica bonito). Fotografe aquilo que te chama a atenção. Sua visão ficará
mais pura, mais objetiva, mais crítica: se acostumará a procurar a Beleza sobre
a qual o mundo se funda e sem a qual você se afunda. Não apenas seu gosto
estético melhorará. Sua alma ficará éticamente mais sensível; V. Dedique 5
minutos para a leitura de algum texto literário. Indico sempre que se comece
pelos livros poéticos da Bíblia (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e
Cantares). Mas você também pode ler um soneto de Dante e Shakespeare, pode ler
Drummond, Manuel Bandeira, Yeats e T. S. Eliot, enfim, pode ler palavras cheias
de verbo e não só se empanturrar dessa verbosidade algo demoníaca que vem dos
noticiários. Largue mão (um pouco, vai) dos memes e do Pânico à hora do almoço
e use o Google para encher sua alma de coisas menos passageiras. Afinal, quando
você estiver paquerando ou morrendo, um verso sempre será útil para amar e
consolar.
1507. Curioso como pessoas
tidas por muito bonitas podem ficar tremendamente feias assim que abrem a boca.
E, por outro lado, como pessoas às vezes consideradas “feias” podem
ficar lindas quando a alma fala por suas línguas.
1508. A santidade organiza a
vida. E o pecado? Bagunça tudo.
1509. O efeito prático da
imoralidade sexual generalizada está aí: muita mulher boa e decente sofre
solidão e nunca irá se casar. Por que? Porquê a qualidade dos homens e das
mulheres em geral está mais baixa que o subsolo do inferno, mas, ainda assim,
existem mais mulheres boas do que existem homens bons. Ou seja, há sobra
numérica no campo feminino. Resulta que a conta para a formação dos pares não
fecha. Isso é terrível. Percebem como o descontrole emocional e sexual
conjuntural de curto prazo destrói as possibilidades de estabilidade
sentimental e sexual de médio e longo prazos? O que se planta hoje na desordem
afetiva individual se colherá amanhã na destruição afetiva coletiva. Há muitas
Saras, Rebecas e Raquéis; e há pouquíssimos Abraãos, Isaques e Jacós. Isso é
cruel.
1510. Que o seu maior desejo
seja o de ser bom. Bom, honesto e simples.
1511. Não desabafe com
qualquer pessoa. Não desnude seu coração diante de qualquer um. Não conte seus
tremores, temores e terrores a quem quer que seja que, primeiro, não tenha
provado ser exemplo silencioso de vida santa. Não exponha seu íntimo, seu
particular mais do âmago, a alguém que não seja capaz de ser forte o suficiente
para guardar só consigo a sua fragilidade. Não se abra com quem não fechará a
abertura. Em suma, nunca se confidencie com gente faladeira e imoral, com gente
fofoqueira e iníqua. Fale primeiro com Deus. Depois, procure gente madura de fé
igualmente madura. Do contrário, as verdades e as mentiras do seu coração
correrão de boca em boca e de ouvido em ouvido.
1512. Nós deveríamos
agradecer profundamente pelas nossas decepções. Uma decepção que é senão a
revelação duma realidade falsa, o descortinamento duma ilusão? Decepcionar-se
é, para o homem sincero, um presente da verdade contra a falsa presença da
mentira em sua vida. Deus nos abençoa com libertação toda vez que um mau
procedimento do próximo nos apunhala o coração com deslealdade. Bendita seja a
decepção, santificada seja a decepção, glorificada seja a decepção!
1513. Você vai continuar
infeliz enquanto não descobrir a quê veio neste mundo. Sem o sentido profundo
da própria existência, sem a descoberta essencial de sua vocação individual,
você viverá de fuga em fuga, de tapeação em tapeação, de tapação de buraco em
tapação de buraco. Você foge através de roupas de marca, de hobbies, de
pecados, enfim, de quaisquer atalhos que gastem seu tempo até que tudo se passe
pelo caminho e a morte finalmente chegue. Você tapeia a própria consciência,
tenta pensar em qualquer outra coisa quando os pensamentos sérios e
visceralmente incômodos vêm estragar a falsa paz de espírito da sua rotina de
até 70 e tantos anos pelo menos. Você enfia qualquer coisa no peito e qualquer
coisa na cabeça, qualquer novela global, qualquer documentário, qualquer filme
na Netflix, qualquer e qualquer coisa para passar o tempo entre suas certidões
de nascimento e óbito. Você só será feliz quando descobrir o porquê de estar,
aqui e agora, neste mundo. Você só será feliz quando passar a exercitar sua
vocação e, então, a exercer seu ser completo, integral e total nesta
existência. Trate de se encontrar entre os bilhões da espécie, trate de se
reencontrar diante de Deus. E então, você experimentará felicidade permanente,
a felicidade de ter motivos para viver e morrer.
1514. Quando as pessoas não
têm ideais no coração, elas não são leais. Não se pode confiar em quem é movido
pelo instinto da auto-preservação. Nessa vida, só é leal quem tem motivos
existenciais que superam o ronco do estômago e os estalos da biologia. Do
contrário você será passado para trás em nome de qualquer conforto que aqueça o
corpo, ainda que esfrie a alma… Apenas gente com valores aceita cortar na
própria carne. Gente sem valores, cortará a sua enquanto não saciar a fome
insaciável.
1515. Os homens estão cada
vez mais canalhas e afeminados e as mulheres cada vez mais carentes e, por
isto, devassas. Equação da infelicidade geral. Ou vocês olham novamente para os
bons e testados valores de sempre, ou vão morrer todos nonagenários e solitários
na cama do hospital. Muitos machos e fêmeas, com corpo de mamífero. Poucos
homens e mulheres, com espírito humano. Os votos do altar são a luz no fim do
túnel para essa geração que transformou o encontro do homem com a mulher em
match no Tinder, em transa ocasional de fim de semana, em status no Facebook,
em defraudação emocional pós-balada, em contatinho no WhatsApp. Os homens
voltarão a ser valorosos e varonis e as mulheres dignas quando a antiga receita
for recuperada: o amor — puro e simples.
1516. Deus é seu fiador
quando você fala a verdade. Ele trabalhará para expor a mentira.
1517. Tenha conversas
interiores, consigo mesmo. Dialogue com seu eu. Converse para dentro. Ouça-se,
fale-se, diga-se. Todos nós temos questões, maquinações, pensamentos que vão e
vem e que geralmente nós jogamos para debaixo do tapete mental. Bata papo com
seu eu. Desnude sua consciência e escancare sua inconsciência para ser
consistente. Seja seu próprio e principal assunto. Você se encontrará a si
mesmo, em lucidez e segurança. E ore. Ore muito.
1518. Pessoas orgulhosas
sempre pensam que nós queremos o mesmo que elas querem. Não admitem que às
vezes aquilo que para elas é tesouro para nós é lixo. Por isso, constantemente,
os orgulhosos enxergam os outros como concorrentes.
1519. Admiro muito
faxineiras, lavradores, porteiros, cortadores de cana, mecânicos, garis, enfim,
quem trabalha com as mãos. Eles trabalham à moda antiga, sentem na pele o mundo
em estado bruto. Ouso dizer que a civilização depende deles. A civilização
depende mais da moça dos serviços gerais da USP que do professor de Sociologia
que quer transformá-la em categoria política. A civilização depende mais do
camelô que vende sacolé na Esplanada dos Ministérios que dos 513 deputados que
querem tributar até a alma do vendedor ambulante. A civilização não depende de
vereadores e prefeitos, de governadores e parlamentares estaduais, de
presidente e deputados e senadores federais; não depende de excelentíssimas
sanguessugas com suas complexidades artificiais. A civilização depende de quem
mantém o dia-a-dia em ordem, no ritmo simples da lei natural. Quem quer
planejar o futuro à longas distâncias é quem cria a desordem e a barbárie. Não
tenho dúvidas: devemos nossas mãos mais finas às mãos mais calejadas. São elas
que nos recordam do Éden, donde o pão começou a ser sovado com sangue, suor e
lágrimas. É necessário recordar e exaltar a nobreza de quem trabalha com as
mãos.
1520. O uso excessivo do
celular está emburrecendo todo mundo. É nítido e inegável. O analfabetismo que
mal fazia correr o lápis no papel hoje desliza os dedos na tela do celular com
presteza inigualável!
1521. O
cristão deve ser bom, não bobo.
1522. A verdade ali se
esconde atrás dos montes, naquele cantinho onde as folhas são rubras e a relva
é véu para aquecer no inverno a flor. Quisera ser um dos hobbits da fábula
antiga para poder me aninhar naquela terra sincera, onde no caleidoscópio a cor
da flor é sua cor, onde os pintores acalmam suas írises no amor, onde toda a
paleta cósmica goteja frio e calor sem esfriar ou esquentar o visceral, o
coração.
1523.
Em Babel, o Homem quer subir ao Céu por forças próprias. Em Betel, Deus desce à
Terra.
1524.
A vida é ampulheta: a areia está no alto, depois está lá embaixo; grão a grão. A
areia é só um pó mais robusto.
1525.
Mentira tem perna curta e muleta alguma lhe cai bem.
1526.
Ou somos homens de consciência ou nada.
1527.
A esfinge ordena que eu a decifre ou ela me devorará. Pobre coitada… como poderá
ela mastigar-me, eu que sou todo areia do deserto? Mastiga-me e engasgo-te!
1528.
A realidade do mundo diariamente mina meu idealismo. Todo dia eu tenho que
encher com azeite essa botija rachada.
1529.
Pode ter saído do jeito que você não queria, mas saiu do jeito que Deus quis.
1530.
Desejo que o silêncio me seja doce, doce como é o néctar ao paladar das abelhas
que trabalham no jardim do camponês. Um silêncio dourado como o mel iluminado
pelo sol do meio dia nos campos da Toscana. Um silêncio piedoso, um silêncio
santo, um silêncio colhido no som da foice aliviando o caule do trigal do seu
grão de pão. Desejo, meu Pai, o silêncio dos anjos daí espiando o crime do
Calvário. Desejo o silêncio da língua seca, sem hissope; desejo o silencio da
Palavra que sussurrou um rasgar no véu do Templo.
1531.
Senhor, achega-te a mim, porquê eu me achego a ti e depois me volto para o
mesmo ponto, para trás. Eu me envergonho das minhas vergonhas e dou passos
vacilantes, infantis, em direção do ponto de partida. Só cruzarei a faixa de
chegada se meus pés contarem com o teu caminho.
1532.
Senhor, eu sei que me escutas. No íntimo eu sei com uma certeza fundamental e
pura. Mas, Senhor, eu tenho intelecto e ele pensa; e seus pensamentos são aqui
estabelecidos na terra, que duvida e faz duvidar. Então, Senhor, ajuda-me a
crer!
1533.
Quero a Deus. Quero a Deus na minha alma!
1534.
Senhor eu sou vão. Um vão vacuoso. Preenchei-me de Ti.
1535.
Curioso: o Rei da França gerou o Rei dos Romanos. Com Napoleão, o Imperador dos
Franceses gerou o Rei de Roma. Território e Povo. Povo e Território.
1536.
Acrescente diariamente um grão de sal a um barril do vinho mais doce e um dia
você terá vinagre ou molho para salada. Pequenos vícios são artífices da
mediocridade.
1537.
Os terroristas islâmicos não perguntam ao cristão se ele é católico, ortodoxo
ou evangélico antes de matá-lo. Eles nos martirizam porquê nosso Deus é Jesus
Cristo. Está na hora de pararmos de brincar de guerrinhas fratricidas e nos
unirmos contra nossos inimigos de sempre. O que ocorreu hoje no Sri Lanka será
exportado para nosso continente em médio prazo. Estejamos preparados para lutar
por nossa fé. Estejamos preparados para, a despeito das diferenças (que
manteremos), nos unirmos naquilo que é essencial. A tribulação virá sobre nós.
Estejamos preparados.
1538.
Dê chocolates aos seus filhos, mas conte a eles sobre a Cruz. Que eles se
lambuzem com ovos bem gostosos, mas que também eles saibam sobre o sangue do
Calvário.
1539.
Cristo que é para você? Um cara legal, ativista e militante no século I? Um
proto-hippie? Um profeta sideral? Jesus é só um “mano celeste”? Um
mártir político? Um guru espiritualista? Ele foi, é e será o Filho Unigênito de
Deus. Ele é o Verbo Encarnado, o Senhor de toda a criação, o Rei do Universo, o
Príncipe da Paz, a Face Visível do Deus Invisível, o Alfa e o Ômega. Ele era
aquele bebê na manjedoura e hoje é o sofredor na cruz do calvário. Ele é o
Salvador. Será que você se importa? Será? Hoje não é feriado. Hoje é o dia em
que recordamos o maior amor do mundo. Dignifique este dia. Que a sua vida
dignifique a morte dEle.
1540.
Tem quem vá pra igreja e se torne pior, que leia muito a Bíblia e se torne
pior, que comece a falar muito de Deus e se torne pior. Por que? Porquê
arranjou apenas um jeito “legítimo” de dar vazão ao ego e… se achar
melhor. Não há nada pior que o orgulho, que piora qualquer situação. Melhor
fosse não ir à igreja, não ler a Bíblia, não falar de Deus. A condenação seria
mais branda.
1541.
A imensa maioria das mulheres bonitas deste nosso mundão não se parece com
essas outras mulheres das passarelas, revistas e outdoors não. A beleza é tanto
mais atraente (eu acho) quanto mais natural, quanto menos fabricada: com
olheiras ocasionais, sem maquiagem, com sardas, marcas e cicatrizes aqui e ali,
cabelos algo revoltos, não muito magricelas nem muito rechonchudas, pele com cheiro
de pele perfumada por leve rastro do sabonete do último banho. É bonito o que é
como é. A imensa maioria das mulheres normais é muito mais bonita (repito: eu
acho) que estes “paradigmas de beleza” artificial que a indústria e a
mídia apresentam aos nossos olhos todo santo e profano dia. Mulher normal é que
é bonita.
1542.
Não te incomoda que, ano após ano, você não aprenda e não melhore em nada? Não
te incomoda ser apenas um mamífero existindo em meio a outros bilhões da
espécie? Os neandertais ao menos se maravilhavam com as estrelas no céu e com a
fogueira na terra. Você mal ergue o pescoço pro alto e mal esquenta a comida no
microondas. Não te incomoda ser apenas um sistema digestivo ambulante?
1543.
Quem aí nunca quis jogar os diplomas no buraco, comprar um sitiozinho e virar
agricultor? A vida na roça atrai tanto que, às vezes, a enxada parece ser mais
leve que a caneta. A terra ainda exerce seu magnetismo sobre as almas
românticas. O ideal bucólico do campo, da volta à casa ancestral, ainda nos
chama à uma vida mais simples e natural. Fugir da cidade: quem aí nunca
acalentou, no fundo do coração, este desejo?
1544.
Fazer alguém sorrir é uma das coisas mais prazerosas da vida.
1545.
Os templos poderão cair. Basílicas serão profanadas, catedrais incendiadas,
monastérios derrubados e até os oratórios e as capelinhas serão vilipendiados.
Foi assim com o Templo de Jerusalém, e não ficou pedra sob pedra. Foi prometido
que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (invisível e
triunfante), não contra as igrejas (visíveis e militantes). Por mais que nos
entristeçamos com a arquitetura da nossa arte ruindo, por mais que nossos tesouros
de fé e piedade sejam sacrilegamente queimados, nós temos as catacumbas de
sempre nos convocando ao martírio que se avizinha: nossos irmãos chineses,
católicos e evangélicos, neste momento se escondem nos porões, nos esgotos, nos
buracos ocultos do Estado para renderem culto ao Cristo, tão proibido sob os
comunistas quanto sob os césares. A perseguição foi, é e sempre será a glória
da Igreja. Que o discurso dos heróis Macabeus, que há 2.200 anos se levantaram
contra a profanação do Santo dos Santos, seja também o nosso: “Levantemos
nossa pátria de seu abatimento e lutemos por nosso povo e nossa religião!”
1546.
A Catedral de Notre-Dame está em chamas. Mil anos de história cristã ocidental
agora se desfazem em cinzas. Os ossos de São Luís se revolvem e se revoltam no
túmulo! Triste fim da Civilização Européia, carcomida por liberalismo, ateísmo
e islamismo. Montjoie? Saint-Denis? Sinal dos tempos. Deus tenha piedade. Dies
Irae… [15.4.19]
1547.
Deus nos ama. Que verdade tão simples quanto profunda!
1548.
Ontem à tarde, ouvindo o papo de dois moleques sobre as tais fotos do Buraco
Negro, perguntei na lata: “tudo bem, mas vocês já pararam pra ver o nascer
e o pôr do sol?” A resposta foi terminantemente negativa. Esta é a
“síndrome do telescópio” da nossa geração: valorizamos e nos
interessamos por tudo o que está distante, inalcançável de tão longe, mas
sequer prestamos atenção aquilo que de grandioso está ao alcance do nosso olho
nu… Vale pra tudo na vida, infelizmente.
1549.
O apreço pelo silêncio é sinal de saúde espiritual. Sinto muito, mas igreja não
é lugar de gritaria, cacofonia e barulho não… Quanto mais alto o som, mais
baixa a razão; e quanto menos razão, menos consciência. O culto a Deus é
consciente: um cérebro “aquecido” por decibéis incompreensíveis não
pode adorar adequadamente. Deus não é surdo, mas você pode ficar se insistir em
estardalhaço sonoro.
1550.
Você não ama a Deus se você não fala com Ele. A oração é uma serenata de amor.
1551.
O desejo por uma casinha de madeira e pedra nas montanhas une as almas
românticas.
1552.
Em 5 minutos você consegue ler um soneto ou ouvir uma peça para piano ou
admirar os detalhes duma pintura. Em 5 minutos você pode mandar um “e aí,
tudo bem?” em prosa e verso. Em 5 minutos você pode escrever um resumo do
seu dia, ou correr quase 1 quilômetro, ou pesquisar no Google qual é a
constelação que está acima da sua cabeça à noite, ou aprender uma receita nova
de batata frita, ou elogiar a moça dos pés à cabeça, ou comprar um livro no
Amazon. Em 5 minutos você pode decorar um salmo da Bíblia ou aprender a usar
crase ou ler a pequena biografia na Wikipédia de alguém que sabia o quanto
valiam 5 minutos. Em 5 minutos você consegue fazer muita coisa além de sentar e
bufar e esperar por maná do céu. Em 5 minutos, milhares morrem e nascem, amores
surgem e homicídios acontecem, sementes germinam após anos de dormência e
artistas rascunham as sombras de obras imortais. Você não tem tempo, mesmo?
1553.
Antigamente os pobres se esforçavam para manter a casinha sempre pintada, a
calçada varrida, os alumínios areados, as roupas de linho barato e chita
lavadas só com água e lisinhas passadas só no ferro. Tudo era muito simples,
mas muito limpo. Tudo era muito humilde, mas muito organizado. Palavrões não se
falavam em hipótese alguma porquê, como se dizia, “nós não somos dessas
coisas”. As avózinhas analfabetas não sabiam escrever o próprio nome, mas
sabiam recitar orações inteiras de cor, com memória superior aos dos nossos
universitários incapazes de lembrar pequenas equações. Os avôs passavam o dia
na roça, comendo polenta no café, no almoço e na janta; de vez em quando, um
pedaço de carne de porco da lata. Essa gente de mãos calejadas constituiu
família, criou e educou os filhos, que andavam quilômetros a pé nas estradas
rurais para aprender o abecedário com professoras sem os stricto sensus da
existência acadêmica. Os pobres nasciam pobres mas não ficavam pobres-de-marré
por muito tempo: costuravam, faziam bicos, trabalhavam por fora para ter vida
melhor por dentro. Iam morrer piedosamente, com velório em casa, chorados por
toda a penca de escadinhas de filhos, netos e bisnetos. Os pobres de
antigamente davam exemplo aos ricos de antigamente. O pobre não abortava, o
pobre respeitava a Deus, o pobre não se nivelava à “evolução” e ao
“progresso” dos abastados. Os pobres eram a grande conquista da
Civilização. Os pobres eram civilizados, elegantes e dignos. Hoje, como está a
situação? A casa está encardida, o mato cresce na calçada, imundície pelos
quatro cantos, calça de jovem de 16 anos custando mais de R$ 300. Tudo é muito
complexo, mas muito sujo. Tudo é muito caro até, mas muito desorganizado.
Palavrões se dizem aos borbotões a ponto de se crer que a língua pátria é
constituída apenas de grosserias e imprecações. Todos têm diploma do
fundamental, do médio e, não raramente, do tal democratizado e burríssimo
ensino superior. Todo mundo passa o dia em frente à tv e batendo os dedos
lisinhos na tela do celular. Essa gente se estufa com bolachas, salgadinhos,
refrigerantes e com toda e qualquer porcaria comprada a preço de banana (da
banana, muito melhor, que não comem porquê deram Coca-Cola na chuquinha e
chocolate na papinha desde cedo pros pirralhos) no supermercado. Reclamam de
andar um quilômetro e meio para levar os filhos na creche e na escola, com
professores à beira da depressão por terem que criar e educar os filhos dos
outros enquanto os próprios passam muitas vezes o dia sozinhos. Vão morrer,
hoje ou daqui uns anos, estirados solitários nas macas de hospitais
superlotados, com um ou outro descendente com muita má vontade pagando a conta
do sepultamento. Hoje, salvo as poucas exceções de sempre, os pobres estão
iguais aos ricos. O igualitarismo, pelo qual as ideologias fizeram correr rios
de sangue? Ei-lo. Os filhos da pobreza e os filhos da riqueza deram
pseudo-fraternalmente as mãos para pularem juntos no abismo da barbárie — a
liberdade de ser lixo. Choremos, todos, por nós e por nossos filhos.
1554.
Lei universal: você nunca vai sair da casa da sua avó de estômago vazio num
domingo.
1555.
Uma coisa legal em se andar a pé pela cidade num domingo de manhã: você vai
sentido os cheiros que emanam das cozinhas, do almoço das famílias. Vida boa.
1556.
Esse som das gotas de chuva na calha e no telhado pacifica a alma.
1557.
Nós precisamos ser mais amorosos.
1558.
O coach que dá aulas sobre como ficar rico é no máximo classe média. A coach de
relacionamentos tá no terceiro casamento. O coach de empreendedorismo nunca
administrou uma empresa. Ensina sucesso e não é bem sucedido? Pô, tô achando
que coaching é o novo refúgio dos pilantras, velhacos, similares e congêneres
que antigamente aplicam o golpe do conto do vigário…
1559.
O Cristianismo não é de Direita, nem de Esquerda ou de Centro. Cristo não é
fantoche de dogmas reacionários, revolucionários ou moderados. A Verdade não
cabe numa cartilha político-partidária comprometida em resolver o mundo pelo
mundo e em redimir o homem com o homem. Burke, Marx e Oppenheimer não são
profetas. “A Riqueza das Nações” de Adam Smith, “A Revolução de
Outubro” de Trosky e “Economia Dirigida e Economia de Mercado”
de Müller-Armack não são Escritura Inspirada. Nossa religião não se ergue em
palanques, mas no silêncio dos altares. Nosso Deus não discursa em comícios,
mas na reverência dos púlpitos. O Cristianismo não pertence ao rito iniciático
da afiliação partidária, mas à Filiação Divina. Maldito o homem que quiser
encadernar Deus no seu credo de César. Seja anátema o filho de Adão que
ideologizar o Todo-Poderoso!
1560.
O diabo conhece suas hipocrisias. E uma das diversões dele é fazer você cair no
pecado que você condena nos outros.
1561.
Atraso é desrespeito pela espera do próximo. Não cumprir horário delimita o
caráter.
1562.
O pecado sempre trará tristeza.
1563.
O mundo era melhor quando as famílias iam sentar na calçada à noite pra
papear…
1564.
Há coisas profundas e gloriosas para se conversar. Para quê, então, fofocar
sobre a medíocre existência alheia?
1565.
Triste situação a dum mundo onde o pai dá cerveja do próprio copo ao filho de 6
anos, mas sequer lhe ensina a ajoelhar-se e orar o Pai Nosso… Quanto
sofrimento poderia ser evitado no futuro se hoje, no presente, os pais se
dedicassem mais e amar e disciplinar amorosamente sua própria descendência.
Menos presidiários, menos criminosos, menos pecadores…
1566.
Uma das coisas mais nojentas da vida é se aproximar de alguém com base em
supostas inimizades mutuamente compartilhadas: “toca aqui, temos
‘desafetos’ em comum!” Procedimento vil, indigno, pecaminoso. Vade
retro.
1567.
Roubar é errado. Mas tem gente roubando comida porquê tem gente que não divide
o pão… Abismo invoca abismo. Sem amor, os farelos, o pecado, a fome e o
desespero se misturam. Como julgar com severidade um homem faminto?
1568.
Olhe nos olhos, do fundo da córnea até chegar no profundo da alma. Está tudo
lá.
1569.
Qual será seu legado? Passar a existência mastigando, cagando, dormindo,
copulando? E os sabores? E os sonhos? E o amor? São 24 horas e todo o dia nessa
mesma “vibe” de comer porquê o estômago exige, de defecar porquê o
intestino manda, de roncar porquê o cérebro ordena, de transar porquê a líbido
impera? Quando você irá se sentar à mesa e apreciar o gosto do prato servido?
Quando você irá comprar papel higiênico e perceberá humildemente que seus
movimentos estomacais o igualam aos orangotangos? Quando você dormirá para
recarregar as baterias e ser produtivo no dia seguinte e não apenas para gastar
energia à toa outra e outra vez? Quando você aprenderá que a alma é a suprema
zona erogênea? Legar carne, gordura e ossos ao cemitério até os cães o fazem. Você
quer mesmo se entregar à entropia? Quer ser corroído, carcomido, puído pelo
tempo e só, e só e mais nada além de ir pra vala comum do nada?
1570.
Não se deve gastar sequer um segundo com aquilo que não pode durar para sempre.
1571.
Seja você mesmo. É o segundo melhor conselho para a vida. O primeiro: tenha
Jesus.
1572.
Vingança é o jeito do diabo destruir tanto o ofensor quanto o ofendido. Não é
justiça. É mal.
1573.
Um dos segredos da alegria permanente: não reclamar dos acontecimentos. Tudo
nos instrui, tudo nos ensina, tudo nos aprimora, tudo tem propósito. Nada é em
vão. Nada é à toa. Não murmure.
1574.
Tudo neste mundo é ilusório, superficial, passageiro. Só Cristo é real,
profundo e permanente. Não desperdice sua vida com as mediocridades, com as
coisas vãs e sem valor. Não gaste suas forças, não empenhe suas energias com as
bobagens douradas que o mundo vende como indispensáveis. Só Cristo pode fazer
com que sua vida tenha sentido para além das misérias e falatórios do dia-a-dia
e do dia após dia. Não se iluda com o verniz transitório daqui da terra. Olhe
para ao Céu.
1575.
A reciprocidade é a pedra-de-toque de qualquer relacionamento. Se você vive
assoprando a fagulha para manter o “fogo aceso” num deserto de gelo,
você não é insistente: você não tem dignidade. Se você faz carinho em pele que
te é alheia, você não é persistente na relação: você não tem auto-respeito. Se
você mima com o presente da sua presença quem mal te dá as caras, você não é
obstinado: você é teimoso em se degradar afetiva e moralmente. Seu amor, seu
carinho e sua dedicação são tão inférteis quanto infelizes. Tenha brio! Em tudo
é indispensável que o interesse seja mútuo. Não há amizade de um só amigo. Não
há casal de um só par.
1576.
Ouça o conselho de quem te quer bem. Ouça ainda mais se ele for duro e te
contradizer. Inimigos disfarçados costumam ter fala mansa e ponderada. Amigos
perdem as estribeiras e te sacodem até o tutano da alma. Não rejeite a correção
de quem te quer bem, porquê a adulação de quem te quer mal via de regra é
aceitação: teus inimigos aceitam tuas falhas porquê sobrevivem delas. Durma com
os passarinhos para acordar cantando, não com os morcegos para acordar de
cabeça para baixo. Para comer manjar, ande com gente decente; senão mastigará
farelo com os porcos… Ouça. Ouça e pense. Ouça e aja.
1577.
Seja rejeitado na terra, mas seja aceito no Céu.
1578.
Deus não nos deixa enganados.
1579.
Amor é por liberdade, nunca por necessidade. Amores de necessidade produzem
escravidão. Amor é uma escolha livre de quem se basta e não quer apenas
completar o cálice (porquê já está completo), mas sim transbordá-lo
permanentemente.
1580.
As crianças brincavam na rua e lá ralavam os joelhos, jogavam bola e bolinha de
gude, empinavam pipa e giravam pião. A vida infantil se passava entre o quintal
e a rua. Quarto e sala eram só pra assistir tv à noite e pra dormir também à
noite. Hoje, a molecada está sendo criada hermeticamente na bolha dos cômodos
da casa sem arranhão e sem merthiolate, só com internet, video-game e celular
— só com as abstrações do mundinho interno; sem a realidade dura, nua e crua
do mundão externo. Os pais criam os filhos do lado de dentro como se jamais
seus pimpolhos fossem ter que lidar com o lado de fora. O ocorrido em Suzano é
um floco de neve vermelha em cima do grande Everest que vem por aí. A geração
dopada por ansiolíticos, hoje no Ensino Fundamental, ainda não mostrou os
dentes…
1581.
Quão terrível é perder a inocência do coração e tudo enxergar maliciosamente.
1582.
O Brasil é um país doente. A política não nos curará. Só Jesus. Só Cristo!
1583.
Se você está interessado apenas em beleza superficial, nenhum corpo o
satisfará. Se você está interessado apenas em finais de semana, nenhum sábado o
satisfará. Se você está interessado apenas na aparência e na rotatividade,
nenhum rosto e nenhum segundo serão seus. Seus genitais cronometrarão o gozo e
seu amor em nada diferirá da cópula dos chimpanzés. Você comerá da carne mas
não se nutrirá da proteína. Você se divertirá na festa mas não aproveitará o
tempo. Se você está interessado apenas em estética e “carpe diem”,
você não terá a lindeza dum corpo e a eternidade num olhar só seus. Você terá a
feiura e o temporário que todo mundo na grande feira e açougue mundano pode
ter: a picanha já mastigada por outros cem clientes do restaurante, a diversão
já sapateada por outros cem fregueses da boate.
1584.
Tudo o que está escondido, oculto, Deus trará à luz. Isto me consola.
1585.
Levar com a barriga, procrastinar, ir deixando para mais tarde, enfim,
finalmente decidir só quando já se chegou no limite máximo do absurdo
intolerável, é não só piorar os resultados e sofrer à toa: é comprometer tudo.
Seja firme e decida em tempo conforme o que é reto, por mais que doa. O preço
da displicência é alto demais. Deus não envergonha quem lhe é fiel acima de
tudo.
1586.
Em qualquer circunstância, vale o antigo conselho: “o que Jesus
faria?”
1587.
O cheiro de café recém-passado é um perfume do paraíso. Não é?
1588.
As pessoas estão quase todas desconfiadas: jogando na extrema-defesa, cheias de
escrúpulos e precauções uns contra os outros. Ninguém acredita mais em ninguém.
Não há lealdade e liberdade para ser sincero. Isto é terrível.
1589.
Uma pessoa que não erra, não vive. Uma pessoa que não vive, não erra. Vivamos
tentando não errar (em aperfeiçoamento constante), mas sem jamais esquecer que
“errar é humano”.
1590.
Não tem tempo para aprender um novo idioma: passa horas nas redes sociais. Não
tem tempo para ir à igreja: passa horas nas baladinhas. Não tem tempo para
cursar faculdade: passa horas com os pés para cima. Não tem tempo para ler um
livro: passa horas fofocando. Não tem tempo para visitar os avós: passa horas
tagarelando nas esquinas. Não tem tempo para ajudar com as tarefas domésticas:
passa horas se arrumando para a gandaia. Não tem tempo para nada: passa a vida
tendo tempo para tudo. Você tem tempo sim! — é que você é vagabundo(a).
Conselho aos demais: não tenham dó, nem piedade, nem compaixão de gente assim.
Não ajudem, não financiem, não auxiliem: vocês só estarão cevando
preguiçosos-orgulhosos.
1591.
Cristo sendo vilipendiado no Carnaval? Sempre foi. A diferença é que a Gaviões
da Fiel explicitou hoje o desde sempre implícito: a quebra da Lei Divina. O
vale da carne é isto: afronta a Deus. Não é lugar para cristãos. [CRISTO VIVE,
REINA E IMPERA!] 3.2.19
1592.
Quer saber se presta ou não? Cristo disse: “Pelos seus frutos os
conhecereis.” Basta.
1593.
Conselhos para vencer: tenha foco e disciplina, estude tudo à exaustão, saiba
sempre mais porquê conhecimento é poder e liberdade, faça o melhor com minúcia
e atenção, se esmere além do necessário, analise as probabilidades e calcule o
improvável, seja a causa e a ação nos outros e nunca o efeito e a reação dos
outros, despreze o fácil, nivele por cima, seja autêntico e aja na verdade,
mantenha a consciência reta, produza todo dia e, sobretudo, entregue tudo a
Deus.
1594.
Se formos companheiros de Cristo na cruz, também o seremos na glória.
1595.
O passado é um cadáver. Ficar supondo “e se?” é apodrecer com ele. A
vida é hoje.
1596.
Se afastar de Deus para se aproximar de alguém é sempre um mau negócio.
1597.
Você vive uma vida digna da morte de Cristo? Lide silenciosamente com a
resposta.
1598.
Quando o juízo de Deus vier sobre os governos deste mundo, todos cairão como
dominó. Quem foi Nabucodonosor? Quem foi César? Quem foi Napoleão? Quem foi
Stalin? Quem é este Maduro? Quem é qualquer “autoridade” neste
planetinha de esquina galática? Governante algum pode nada por si mesmo.
1599.
É da natureza feminina as atitudes estranhas e indecifráveis, a mutabilidade
repentina “mobile qual piuma al vento”, a esquisitude e o
mistério contraditório que semeiam dúvidas em nós para colher certezas íntimas
nelas. Se você não consegue lidar com isso e fica irritadão com elas, tentando
apalpar lógica racional no escuro sentimental, sinto dizer: você está
procurando outro homem, não uma mulher.
1600.
Acostumados com o cheiro do perfume dos frascos, como sentirão o da flor do jardim
e o da pele que toca a flor do jardim? Acostumados a reagir com emojis aos
stories das fotografias “filtradas” do Instagram, como reagirão à
imagem crua e nua de carne e osso diante dos próprios olhos? Acostumados com os
molhos de chocolate que condimentam o açaí e com o catchup avermelhando tanto
biscoito de maizena quanto churrasco, como sentirão o sabor do arroz e do
feijão puros da marmita quando forem bater concreto? O artificial está
mastigando o amor: o homem está com o olfato poluído pela colônia que lhe
colonizou a alma e a exilou do cheiro da vida além-balada; o homem anda incapaz
de elogiar com a expressão do próprio rosto a beleza duma mulher e sequer tem
palavra adequada para dizer-lhe qualquer coisa que não os adjetivos-padrão que
se dão às coisas inanimadas; o homem não tem na língua o gosto da realidade que
nutre o corpo nas segundas, terças, quartas, quintas e sextas-feiras de suor. É
preciso se desacostumar do artificial — desses artifícios que retiram de nós a
arte e o engenho de sermos… naturais: sensíveis às coisas como elas são e não
como querem supor parecer ser. A rosa e a morena e o lírio e a loira na mesa
nossa do pão nosso de cada dia são bem melhores (mais cheirosos, mais belos,
mais suculentos!) que as fragrâncias envidradas, que as imagens digitais, que
os paladares fast-foodianos.
1601.
Os dentes podem ser alvos de tão brancos e retinhos de tão geométricos, mas se
o sorriso não encantar… Por detrás da carne e do cálcio está a alma; e se a
alma não transborda para além da boca, não há poesia, não há flores, não há
amor.
1602.
Alguns poucos segundos podem decidir negativamente todo o resto de sua vida.
Deixe-se orientar pela Palavra de Deus e nunca pela conveniência ou prazer
momentâneos. A gota d’água que você decide empoçar hoje é o oceano de amanhã. O
floco de gelo que se acumula no presente é a avalanche de bolas de neve do
futuro. Tenha cuidado. Não troque um emprego estável por aventuras financeiras
que poderão te empobrecer definitivamente. Não troque a possibilidade de um
casamento abençoado por sexo casual que poderá te macular para sempre. Não
troque o médio e o longo pelo curto prazo. Não vale a pena. Não decida em favor
do instante do agora apenas pelo pragmatismo da proximidade temporal: tudo
passa e, quando passar, se você escolher mal, você acabará passando junto.
Tenha cuidado!
1603.
Amor não tem nada a ver com palavras bonitas. Amor tem tudo a ver com palavras
verdadeiras.
1604.
Por mais que o apartamento seja espaçoso, a gente quer é a rede balançando na
casa avarandada. Por mais que o McLanche esteja bem feito, a gente quer é o
arroz e o feijão da mãe. Por mais que a namorada esteja toda borrifada de
Chanel, a gente quer é ela cheirando à própria pele. Por mais que o carro seja
V12 e a pista um tapete, a gente quer é andar a pé no meio do mato. Por mais
que a os apetrechos das coisas agradem com seu conforto, a gente quer mesmo é o
essencial.
1605.
Do jeito que está [des]organizado seu quarto, está toda a sua vida.
1606.
Se você não for homem o suficiente para sustentar seu caráter diante dum
grupinho de colegas (comedores-e-cagadores de feijão) no trabalho ou na
faculdade, como espera resistir ao Anticristo quando ele pretender outra vez
martirizar os crentes? Se o coliseu das feras faladoras já te faz fugir em
covarde desespero, a arena de sangue cruento te mandará para o inferno até
mesmo quando a morte for irremediável…
1607.
Não haverá amor se, antes, não existir admiração mútua.
1608.
Perdoe tudo a todos. É este o caminho do Cristo, custe o que custar.
1609.
Não faça nada por alguém caso a pessoa possa fazê-lo por si mesma. Ajudar nem
sempre é “fazer o bem”. Se não liberta e ensina, não é bem. É mal
disfarçado, porquê condiciona à preguiça e escraviza no comodismo.
1610.
As mulheres querem flores, chocolates e cócegas. E o mundo lhes tem dado
baforadas, anticoncepcionais e masoquismo. Minha pergunta, moças: até quando
vocês vão se sujeitar a isso?
1611.
Ou Cristo ou nada. É isto.
1612.
Mulher boa não é aquela que se envaidece com um assovio à toa. É aquela que
fica vermelha só com o nosso silêncio.
1613.
Alguém está aniversariando? Parabenize, dê um abraço e se for o caso até um
presente (por mais simples que seja). Talvez você será a única pessoa a se
lembrar. Talvez você salvará alguém da tristeza, da mágoa ou da depressão
justamente naquele que deveria ser um dia de alegria para qualquer pessoa neste
mundo. Todos merecem que seu aniversário seja lembrado. Todos querem ser
queridos. Seja gentil.
1614.
Podem ficar com Nutella e demais frescurites. Eu gosto mesmo é de paçoca.
1615.
Não tema parecer ridículo. Tema não ter coração.
1616.
É terrível, mas não são poucos aqueles que só se encontrarão consigo mesmos na
velhice, se acabando na cama do hospital, quando tudo estiver perdido, quando
nada puder ser desfeito.
1617.
Quanto mais íntimo o relacionamento, menor a necessidade de provas. Idem com
Deus. Quanto mais íntimo nosso relacionamento com Ele, de quase nada ficam
valendo os argumentos da Apologética. A lógica e a razão da mente se dão bem
com idéias. Deus não é uma idéia; é uma pessoa, com a qual relaciona-se: por
isto, é no coração que temos a mais forte, potente e profunda certeza.
1618.
Na igreja você não tem que agradar ao rebanho; tem que agradar a Deus. No
casamento você não tem que agradar ao cônjuge; tem que agradar a Deus. No
governo você não tem que agradar ao povo; tem que agradar a Deus. Na amizade
você não tem que agradar ao amigo; tem que agradar a Deus. Se você agradar a
Deus, a igreja se manterá, o casamento se manterá, o governo se manterá, a
amizade se manterá. Agradando a Deus, você estará sob suas leis e então agirá
sempre bem e Ele tratará de sustentar tudo para você. Desagradando a Deus para
agradar a congregação, o esposo, a multidão e o colega, você perderá sua fé,
seu matrimônio, sua posição e sua amizade. Desagradando a Deus, você perderá
sua alma e com ela perderá todo o resto. “A escrita já está na
parede”, diz a Escritura.
1619.
Tenho percebido que muitas das pessoas que nós taxamos genericamente de
“preguiçosas” na verdade são indivíduos que estão de certa forma
tristes. No fundo, o dínamo da alma está desenergizado por certa depressão: ela
não se mexe porquê simplesmente não tem ânimo para nada. Nem todo vagabundo o é
no plano moral. Às vezes, é espiritual.
1620.
As pessoas se vendem por farelos porquê biologicamente têm fome e estômago, mas
não têm o paladar seletivo do espírito. Mas se você amar a Deus e
“jejuar” do pão que o diabo diariamente amassa e assa (para te
tentar) enquanto você está no “deserto”, Ele te dará não só um pão
inteiro, mas a fornada e o forno e a padaria e o trigal todo! A vida com Cristo
vale a pena.
1621.
Nunca se esqueça de quem estava consigo enquanto os outros inventavam
desculpas.
1622.
A moça toda emperiquitada e o rapaz todo bombadão tiram selfie tendo ao fundo o
chiqueiro insalubre que eles chamam de quarto. A realidade fedida do dia-a-dia
versus a superficialidade imagética das redes sociais. Estava certo o caipira:
por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
1623.
Cerque-se de puxa-sacos e você acabará castrado. Quem o lisonjeia
excessivamente quer retirar sua força e vigor para que, quando o for apunhalar,
você não seja capaz de reagir. De adulação em adulação, a galinha perde o
pescoço. O puxa-saco ensaca a terra do buraco que ele mesmo abre para sua
sepultura. O puxa-saco massageia o músculo do ego para que mais tarde a lâmina
do punhal entre mais suavemente no tecido do coração. Não é à toa o ensinamento
de Santo Agostinho: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem,
aos que me elogiam, porque me corrompem.” Coisa terrível, porém, é
quando quem puxa o saco é moralmente indistinguível de quem tem o saco puxado:
então, a merda abraça a bosta e tudo são fezes.
1624.
Se você tem avós vivos, visite-os sempre. Vá bater papo, leve uma comida
gostosa e dê atenção. Se você não tem, sempre tem algum velhinho gente boa na
vizinhança de quem você pode ser amigo. Você vai aprender muito com a sabedoria
deles e, de quebra, vai exercitar amor. Vale a “pena”.
1625.
Mente desorganizada = vida sem propósito. Tudo começa aí nos seus miolos: se as
coisas não estão em ordem com eles, seu quarto estará anarquizado, sua mesa de
trabalho bagunçada, sua vida confusa. Arrume sua mente com datas e tarefas para
a regularidade e com horários e orações para a disciplina, e então você
perceberá que até nas coisinhas menores do dia-a-dia sua vida ganhará
significado.
1626.
O mundo era melhor quando nossas avós cozinhavam com banha de porco. Eu acho.
1627.
Se você olhar para o céu estrelado toda noite, o brilho das estrelas se apegará
à sua retina, iluminará a cor da sua íris e nunca mais seus olhos perderão a
direção do céu. Quem levanta a cabeça para o que está acima, levita sobre a
terra e tem debaixo dos pés todas as trivialidades do mundo.
1628.
Seja bom, não bonzinho. O bom diz não. O bonzinho só diz sim. Tenha dignidade.
1629.
Triste história: Conversei com uma professora, do Ensino Médio, num escritório
em Catanduva. Ela não sabe que fevereiro não tem 30 dias, não sabe discernir as
fases da lua no céu, não sabe que o nosso calendário é o gregoriano e é solar.
Ela é professora de Geografia. Fui olhar o Facebook dela: contei quatro frases
do Paulo Freire, vi seu orgulho manifesto em ser pedagoga e um ou outro pedido
por salário mais alto, notei um sério problema com a Língua Portuguesa… Isto
é mais comum do que vocês pensam. Isto é triste. Isto é perverso com ela (que
se crê preparada para ministrar aulas) e com seus alunos (sobretudo, com
aqueles dois ou três que realmente se importam com a vida e, por isto, com as
aulas). O buraco da questão educacional é bem mais embaixo.
1630.
Se você não molha seu pão com manteiga no café, não sabe o que é bom na vida.
1631.
Um escritor velhinho acaba de dar seu último suspiro no hospital. Um acidente
matou uma família inteira neste instante. Uma bala perdida acertou agora um
bebezinho de dois meses. Um ônibus lotado de turistas caiu há pouco dum
penhasco. São as notícias do momento no jornal. A morte está ceifando pequenos
e grandes por toda a parte. Ela não pára, ela faz hora-extra, ela mastiga a
humanidade. E você está aí, inconsequente, vivendo a vida loucamente como se
não tivesse que prestar contas dela a Deus…
1632.
Um conselho que pode te ajudar muito na vida: compre um caderno grande e
diariamente tente se descrever. Pontos fortes e fracos, traços positivos e
negativos, virtudes e hábitos e vícios, etc. Uma anamnese espiritual. Um
diagnóstico no qual você é médico e paciente. Seja sincero ao máximo, cru e até
cruel. Fique nu e, mais que com os próprios olhos, registre isso no espelho da
consciência refletida no papel através da caneta. Todo o dia, se note e depois
anote. Todo o dia, se descreva e depois escreva. Para cada questão narre também
minuciosamente (calculando racionalmente suas possibilidades reais) uma
solução, um caminho pedagógico a tomar. Você é nesta vida seu maior desafio.
Você é escultor de si mesmo. Começar a por as coisas na ponta do lápis, preto
no branco, é um bom começo. Compre um caderno e seja você mesmo o escritor
inspirado e o crítico ferino desta sua obra magna: você. Você saberá mais sobre
si e, então, muito mais sobre como agir retamente neste mundo tenebroso sem
abdicar da sua alma. Compre um caderno. Trabalhando nele, você trabalhará em si
mesmo.
1633.
Outro desastre. Mais mortes e lágrimas. Outra comoção pública que vai passar e
logo será esquecida. Brasileiro: povo passional na hora do pranto e do ranger
de dentes, mas de memória curta na hora de mudar o que precisa ser mudado. Que
este desastre não seja em vão, como foi o de Mariana; que o ocorrido agora
pouco em Brumadinho não seja em vão… E que Deus receba os mortos e console os
vivos. [25.1.19]
1634.
Nunca seja um maria-vai-com-as-outras. Se tiver que discordar e enfrentar,
discorde e enfrente. Guarde sua consciência contra tudo e contra todos se
necessário, mas não seja bunda-mole.
1635.
No mesmo dia a mocinha reclama da Educação no país e passa a tarde discutindo
no Facebook sobre não-sei-o-quê do Big Brother Brasil. Eu já vi padre na
churrascaria em plena Sexta-Feira Santa e já vi professora de Língua Portuguesa
comendo meia dúzia de plurais numa redação, mas tá pra nascer gente mais
hipócrita que esses adolescentes ideologicamente engajados que poluem o feed
aqui desta redinha socialzinha.
1636.
A covardia é o mais detestável defeito que pode haver num homem.
1637.
Uma moça me pediu, in box, para falar sobre a artificialidade dos
relacionamentos neste nosso mundinho pós-moderno. Creio que um trecho da
resposta que dei cabe ser publicada aqui: — Não entrar no “piloto
automático” é nosso primeiro dever quando estamos tomando o controle do
nosso eu e, por isto, tratando de nos auto-conhecer. Não só estar consciente,
então, mas querer cada palavra, cada movimento, cada gesto e fazer com que eles
sejam exteriormente coerentes e adequados ao que decidimos interiormente.
Quanta gente conversa por gatilhos, dá risada por gatilhos, existe por gatilhos
— ações e reações cíclicas, causas e efeitos sistemáticos, que vão e que
voltam sob os disparos de padrões cognitivos insensíveis à realidade. Primeiro
você se força a rir, por “educação”, da piada sem graça; depois,
habituado à falsidade, você ri de qualquer coisa quando na sua mente pisca o
alerta “é hora de rir!”. Você começa com pequenas doses de
inadequação (reações não geradas pelo julgamento crítico do ambiente que está
te afetando, mas por uma vaga e dispersa informação que diz “vou poupar
esforço e… para não me gastar ou desgastar, direi assim, me movimentarei
assim, agirei assim”. Uma estrutura robótica, em verdade. Equações de
carne e osso. Marido e mulher que passam anos no piloto automático, p.ex. Tudo
vira rotina, porquê nada do dito e do feito é genuíno, mas puramente habitual
num looping de repetições que isolam as pessoas umas das outras e que ainda
mais as afastam no plano dos pensamentos e sentimentos, vez que a realidade
interna não se manifesta e o relacionamento em muito pouco difere do
relacionamento que o hamster mantém mecanicamente com sua roda. Aliás, perde-se
a organicidade da consciência para funcionar como um software por si mesmo
programado. Mas às vezes, de repente não mais que de repente, alguém retoma um
pouco de consciência sobre a própria vida e foge, e deixa tudo, e… comete
alguma barbaridade! Não entrar no piloto automático é reviver em si a imagem e
semelhança de Deus. É por isto, e só por isto, que o santo é o homem mais
livre. Ele não é um joão-bobo ou um boneco biruta de posto “levado em
roda por todo o vento” (Efésios 4:14). Ele é em si mesmo seguro de ser
quem é — de falar e calar como quiser, de agir e reagir como quiser, de se
movimentar dentro e fora como quiser. No início, é um esforço hercúleo prestar
atenção no próprio estado de espírito em todos os “tim-tim por
tim-tim” da nossa peregrinação ordinária e extraordinária sobre a terra,
mas, uma vez consciente, a gente entende que tal compensa qualquer ônus humano,
sobretudo o de parecer “sincero demais” aos olhos dos outros…
1638.
Por que alguém se envergonharia do Evangelho, da própria fé? Por que alguém
esconderia seu Deus dos seus amigos, colegas e conhecidos? Você acredita que as
crenças deles são superiores à Verdade revelada e que as Boas Novas são menores
que suas ideologias de direita, de centro e de esquerda? Por que você discute o
imante partidário das utopias terrenas e nunca lhes diz nada acerca da
realidade do Céu? Por que você fala do Bolsonaro, do Amôedo e do Lula mas não
fala de Cristo? O papo de boteco, variando de futebol a sexo, vale menos que o
sermão da igreja falando de filhos e amor? Horóscopo do João Bidú, poker,
fofoca de bairro e a última reportagem do Jornal Nacional podem ser tema de
papo mas o Nazareno não? Porque você se envergonha dAquele que criou você? Por
que?
1639.
Em quais condições você pretende apresentar seu coração para seu futuro
cônjuge? Todo marcado e amassado pelos contatinhos de dentro e de fora do
WhatsApp? Com as artérias espirituais entupidas por sebo luxurioso, com feridas
mal cicatrizadas e desejos semi-esquecidos, com traumas inconscientes,
projeções e neuroses numa volição doente? Você vai expor sua mulher às
risadinhas irônicas da multidão de meninas que já pegou a torto e à direita?
Você vai expor seu marido à gargalhada sínica dos galinheiros onde cacarejou?
Como você tem guardado seu coração? Ele é uma peça de açougue que qualquer mão
pode agarrar e canibalisticamente comer, digerir e defecar? Ele é um órgão
meramente fisiológico que cede aos feromônios do momento? No altar de Javé ou
diante do juiz de paz: procure, um dia, apresentar não apenas seus votos para
um futuro puro e amoroso, mas também seus marcos de um passado e de um presente
igualmente puros e amorosos.
1640.
Sem motivação ninguém vai para frente. Há muita gente com potencial para mover
o mundo que está apodrecendo o cérebro num canto qualquer embolorado da
existência apenas porquê não tem quem sente do seu lado e diga um simples
“você quer ajuda?” Olhe para quem está ao seu redor. Preste atenção e
vai perceber que alguém precisa que você vá lá e desperte o gênio que está
anestesiado pelas bobagens da rotina. Motive quem pode ser grande, quem pode
ser santo, quem pode ser maior e melhor. Você estará disparando um efeito
dominó de graça e redenção que fará o mundo melhor. Se necessário dê uns
gritos, uns chacoalhões e ajude alguém a ser gente.
1641.
Deseje ardentemente o Céu e a terra te será mais fácil.
1642.
Entre o fácil e o difícil, escolha sempre o difícil. Quase nunca o fácil
presta. A fruta mais polpuda e saborosa está no último galho pelo influxo da
natureza, o ar mais puro está no pico mais elevado, o amor eterno para além do
altar está na tensão equilibrada dos desejos conflitantes, o poema mais
precioso está nos versos mais doídos no espírito e na métrica, o prato mais
saboroso está no cozinhar lento e paciente, a jóia mais bela é a mais filigranada,
o caráter mais honesto sangra renúncias. Tudo o que tem valor é fruto de
processos de trabalho árduo, constante e decidido. Isto vale à pena. O resto,
não. Descarte as facilidades: banana de feira, ar de boate, ficada de balada,
música de conveniência de posto, miojo e mclanche feliz, bijuteria de camelot,
aparência de virtude. Regra de vida!
1643.
É grande a tentação de fazer o mal em benefício do bem. O diabo quando não nos
faz cometer o mal pelo mal, enfim, agindo em função mesmo da perversidade, nos
quer fazer pecar nos dando bons argumentos para pecar: “conte esta
mentirinha para evitar uma briga”, p.ex. Um pecadinho como meio será
redimido pelo benefício de seu fim virtuoso, sussurra o tinhoso; ele, que é
maquiavélico desde a fundação do mundo. Não caia nesta artimanha aparentemente
inofensiva, cheia de boas intenções, de cometer um mal menor para obter um bem
maior. Isto não existe.
1644.
Abandone as ilusões. Não insista em regar sementes (que você sabe que não vão
brotar) só porquê alguém lhe disse que eram sementes das rosas com as quais
você “sempre sonhou”. O perfume da ilusão está só aí na sua cabeça;
não existe no seu olfato. Não minta para si mesmo. Larga mão de ser bobo:
estude a terra, aprenda jardinagem e plante você mesmo o roseiral — com razão
e método. Abandone as ilusões antes que você se contente com qualquer espinho
machucador só porquê ele é parte da rosa…
1645.
Procure resquícios de céu nos olhos de alguém. Quando você neles encontrar
centelhas de estrelas, fagulhas de luz eterna, você terá encontrado amor. Não
importa a escuridão do mundo. Não importa se as trevas caem densas sobre a
terra. Você então sempre terá um par de lâmpadas para te acompanhar em
tempestades e desertos. Procure por olhos que fuljam como o sol mas sem
queimar, que brilhem como labaredas mas sem machucar, que iluminem ao máximo
mas sem cegar. Procure e você encontrará amor.
1646.
Se você não tiver em mente que um dia vai morrer, você não vai viver como deve.
1647.
De Cristo, a gente pode dizer: virá, eu sei que Ele virá!
1648.
Quem troca tudo o que há de grande e fecundo na vida (porquê é difícil) por
coisas pequenas e estéreis (porquê são fáceis) está fadado apenas a comer,
dormir, fazer sexo e cagar como um animal.
1649.
O dia que você encontrar uma mulher em quem possa acreditar e confiar como em
si mesmo, agarre-a e nunca mais solte a menina. Coisa difícil. Mas coisa
preciosa…
1650.
Mantenho a opinião de sempre: governo não deve gastar um centavo com Carnaval,
Marcha Para Jesus, Festa do Peão, etc. Nenhum “divertimento” não
formativo deve ser alvo de política pública. É dinheiro de imposto que vai para
o ralo inútil e imoralmente.
1651.
Um pecadão cometido por um iníquo praticamente em nada altera a vida e a rotina
dele. Mas um pecadinho de nada muda praticamente tudo na vida dum santo. É como
se uma bomba atômica caísse e, então, fragmentasse e desorganizasse tudo. É um
desnorteamento e uma desorientação totais. Por que? Porquê o pecador é um homem
de partes, e elas funcionam quase que autonomamente; logo, mexer numa parte é
só mexer nela — todo o resto continua a funcionar por si, sem maiores
sobressaltos e problemas. O santo, porém, é um homem unificado, integral, uno;
então, mexer numa parte é mexer no todo — e o todo desaba porquê tudo está
nele complexamente ligado e finamente ajustado; e desabando, afeta
negativamente a rotina e a consciência dela de cabo a rabo.
1652.
Olhe bem no fundo dos olhos das pessoas. Por mais que elas mintam pela boca,
você vai fazê-las tremer, vai deixá-las nuas e vai chegar à verdade.
1653.
A mãe que divide a pouca comida que resta entre os filhos e vai dormir em jejum
é santa. O andarilho que se descobre no inverno para aquecer uma ninhada de
cachorrinhos é santo. O político que quer se eleger à custa de cestas-básicas
para os pobres é maldito. A empresária que sonega centavos à caixinha natalina
do porteiro é maldita. A liberalidade amorosa, a generosidade que tira de si a
segurança e retira de si o conforto, é um sinal evidente de santidade. Mais do
que nunca estou certo duma coisa: quanto mais se tem, menos se dá; quanto menos
se tem, mais se compartilha.
1654.
Você pode não entender latim, náuatle, grego, sânscrito, tibetano e aramaico.
Mas ouvir um hino numa língua desconhecida é um exercício de mistério. A gente
sabe que aquilo ali, aquilo que ouvimos, é um cântico. Sabemos que ali temos um
amor louvando o Amor. Mas se por um lado a literalidade dos significados
imediatos nos falta, sobra na consciência espiritual a mediação da verdade
última das palavras com sua música, do idioma desconhecido numa música algo
conhecida (porquê as notas ricocheteiam na alma na mesma fluência cognitiva que
une alemães a zulus, mongóis a judeus, tupis a belgas): é belo, é bom, é
divino, é beleza, é bondade, é sobre Deus.
1655.
Cristão que vive como se o diabo não existisse é como ateu que vive como se
Deus não existisse. Abre o olho!
1656.
Há na vida duas variedades de dor: a dor que só dói e a dor que modifica. Você
estará salvo quando não sentir apenas dor, mas quando aprender com ela.
1657.
Uma vida de serviço a Deus e ao próximo. Não há nada mais belo e elevado.
1658.
Esta geração de homens é deplorável de tão covarde. Nunca vi tantos bundas-moles
borrando as cuecas diante das mínimas adversidades. Incapazes de defender seus
lares, suas igrejas, suas próprias vidas. Incapazes de honrar suas famílias,
seu Deus e… sua honra. Incapazes de erguer a voz em defesa do justo, do
certo, do nobre. Incapazes de fazer frente aos maus, incapazes de deter os
males, incapazes de serem bons ativamente contra o mal. Incapazes. Não são
audazes, não são valentes, não são destemidos: são maricas, são assustados, são
tímidos. Vocês são uns bostas, escondendo-se debaixo da cama enquanto o mundo
sucumbe. Vocês são frouxos e medrosos, não dando a cara à tapa e a soco por
medo de perderem comodidades tão infantis quanto infernais. E são
“cristãos”? Pior, muito pior! Nós não fomos chamados para viver como
os outros homens vivem, dispersos entre futilidades e confortos vãos: nós somos
convocados à luta, à guerra, à peleja por uma causa eterna, por uma bandeira
celeste que é desconhecida na terra. Onde está sua varonilidade? Onde está seu
valor e sua espada? Onde está seu coração e seu caminho? Onde está seu espírito
e seu sonho? Onde está sua hombridade? Saibam disto: vocês não são homens!
1659.
Amor que não faz querer morder como se quer morder a bochecha dos nenéns não é
amor.
1660.
Ingenuidade é uma coisa bonita. Mas excesso de ingenuidade ou é retardo mental
ou é velhacaria do mais alto nível. Tomem cuidado com os “inocentes
patológicos”. Se eles não vêem nada, vêem muito; e se vêem muito, eles
cegam muito os outros.
1661.
Excesso de redes sociais = falta de redes neurais. Não sei se você já percebeu,
mas quando se gasta muito tempo com este tipo de “comunicação”, se
gasta muito tempo disperso: horas fracionadas entre mil coisas difusas, de modo
que o cérebro não se concentra em nenhuma delas por tempo suficiente para
digerir a própria informação por completo (que não é apreendida, então). Você
emburrece porquê fica incapaz de focar sua atenção; e atenção é a
pedra-de-esquina da memória, que é o alicerce do conhecimento. De novo: você
emburrece.
1662.
Os mais perigosos são os mais covardes. Quanto menos dão a cara, mais apunhalam
pelas costas.
1663.
Dê o seu melhor. Faça o melhor possível. O melhor feijão cozido. O melhor poema
escrito. A melhor troca de pneu. A melhor música ensaiada. O melhor: o
superior, o minucioso, o detalhista, não sendo perfeito pela impossibilidade
intrínseca mas almejando à perfeição pelo esmero e pelo cuidado em fazer o
melhor. Seja excelente, ainda que, como diziam os romanos, “ad augusta
per angusta” | “o elevado através da angústia”. Seja
melhor e, com humildade, tente ser o melhor em tudo o que fizer. Não por você,
mas para honrar e glorificar a Deus com seu empenho, com seu zelo, com sua ação
no mundo que Ele criou justamente para que você fosse imagem e semelhança dEle.
Dê o seu melhor e você será melhor. E então seu tempero no paladar, seus versos
no coração, seu automóvel na estrada e seu canto nos ouvidos serão recebidos no
Céu como pura adoração!
1664.
Se você sente que esta aqui não é a sua época e que deveria ter nascido em
outra era, em tempos mais “antigos”, só lhe digo uma coisa: é sua
missão trazer aquilo que havia de bom por lá para cá, para hoje. Saudosismo
daquilo que nunca se viveu mas se sabe bom implica na missão do resgate, da
restauração, da substituição contra aquilo que no contemporâneo é mau. Não se
trata de reacionarismo ou de culto ao passado, mas de retirar lá dos escombros
do pretérito as colunas que podem sustentar o futuro a partir do agora. Seu
modelo de amor está um pouco cristalizado nas canções e trovas do século XIII?
Seu paradigma de arte está de alguma forma circunscrito no talhe clássico do
Renascimento? Seu arquétipo de vida tem na estética e na ética daquilo que já
se foi e já não é o ideal? Trata de cultivar estas reminiscências no seu
espírito e, depois, derramá-las sobre aqueles que lhe cercam. Você foi
vocacionado para a recuperação de valores nobres, para o levantamento do marco
que, no Caminho Antigo, conduz à Eternidade. Não se sinta peixe fora d’água
quando são os outros que abdicaram até do aquário e tentam a todo custo nadar
nas dunas quentes do deserto pós-moderno. Esta é a sua época!
1665.
Nós não entendemos o porquê de muitas coisas nem mesmo quando nós somos
formalmente os artífices delas. Misterioso, esquisito, inexplicável,
completamente louco aos olhos da razão humana. Nós não compreendemos o motivo
profundo das ocorrências até que, poeira baixada, nós olhamos para o quadro
geral de confusão e vemos, surgindo do caos e da escuridão, a mão de Deus nos
obrigando a tomar o rumo dEle, o caminho originalmente traçado para nossa vida.
Então, nós abrimos os olhos! Então, a luz ilumina e o óbvio fica patente: o
lugar não é este, o momento não é este e nós também não somos isto! O Senhor é
soberano sobre tudo e sobre todos: é o autor da nossa existência e o escritor
da nossa biografia. Que esta verdade nos console.
1666.
Se você olha para si e seus pecados não o deixam desesperado, se preocupe!
1667.
Nós precisamos aprender a depender de Deus, não das certezas confortáveis, não
das estabilidades, não do bem-estar que torna a alma preguiçosa. Chacoalhões na
vida servem para isto: para nos acordar do sono letárgico das comodidades que
aprisionam o espírito. Isto a que você chama de dificuldade, de sofrimento, de
dor e de provação não é um estorvo existencial: é a condição divina para que
você tenha a vida de um ser humano completo e livre das bobagens do mundo. Por
isto, repito o que há algum tempo tenho dito: Deus vai tirar de você aquilo que
te prende às coisas mesquinhas e vis. Você tem que aprender que só Ele basta.
1669.
Tenha amigos de verdade, amigos do peito. Eles são poucos, mas são
indispensáveis.
1670.
Sonhos grandiosos sempre almejam coisas em si muito simples e
“pequenas”: família, amor, felicidade. Sonhos pequenos é que desejam
coisas complexas e “grandiosas”: dinheiro, fama, poder. Sonhos
pequenos nem sonhos são: são ilusões das mais bestas, miragens de nada com
nada. Se você sonha com estas coisinhas bonitas e singelas e não está nem aí
para estes excessos tão supérfluos quanto inúteis, você está no caminho certo.
Continue a sonhar com suas miudezas de carinho e esperança: Deus vai te ajudar
a tocar em frente.
1671.
Há um céu por conquistar. Melhor tirar um pouquinho os olhos da terra.
1672.
Perde-se a alma por ninharias… Ganha o diploma e vira doutor, mas perde a
alma. Ganha a fortuna e vira milionário, mas perde a alma. Ganha a eleição e
vira deputado, mas perde a alma. Ganha o título e vira campeão, mas perde a
alma. Ganha o gozo e vira garanhão, mas perde a alma. Ganha o mundo inteiro,
mas perde a alma!
1673.
Tudo o que é grandioso se constrói em silêncio. Planeje, organize, trabalhe em
silêncio. Depois, espante todo mundo.
1674.
Existe uma felicidade que transcende qualquer sofrimento: a certeza do
propósito da dor através do amor de Deus.
1675.
Acredita que a paternidade submete o homem, mas tudo bem ser babá cervejeiro
dos colegas. Acredita que a maternidade escraviza a mulher, mas acha legal ser
mãe de pet viciada em Rivotril. Acredita que namorar, noivar e casar é
anacronismo patriarcal, mas tem ciúme da amante e chora ouvindo música
sertaneja romântica. Vocês estão esquizofrenicanente fodidos.
1676.
Não seja mole. Seja duro consigo e o mundo será moleza. Sobreviver arrastado é
para animais. Viver é para quem aceita o próprio espírito e escala o universo
por suas potencialidades. Não seja molenga. Seja rigoroso consigo e os muros
mundanos serão gelatina atravessada pela sua alma.
1677.
O número de pessoas nas quais você pode realmente confiar é mínimo de tão
minúsculo. Julgue e analise cada um daqueles que lhe cercam. Depois separe-os
seletivamente, dando a cada qual o seu lugar e o seu valor. A quem honra,
honra. A quem lixo, lixo. Não seja tolo: se o número dos seus “amigos do
peito” supera o dos dedos de uma só das suas mãos, há algo de muito errado
com o seu julgamento moral.
1679.
Três simplórios (mas muito eficazes) conselhos: I. Organize sua mente — saiba
como e sob quais condições você pensa e o porquê de pensar assim ou assado.
Esteja no controle do seu habitat imaterial e metafísico para que ele
desempenhe suas máximas potencialidades; II. Organize sua casa — tenha tudo no
lugar, mantenha ordem no seu mundo material mediato e imediato. Esteja no
controle do seu ambiente físico para que ele funcione existencialmente, ou
seja, não atrapalhe sua mente; III. Organize sua vida — tenha os rumos dela em
contínua compreensão, com planos A, B, C e… Z em função dos fins que você
almeja. Esteja no controle dos propósitos que exigem harmonia entre físico e
metafísico: seu presente e futuro acontecem nesta junção.
1680.
Estejam conscientes de que vamos criar filhos ingênuos para um mundo malicioso.
Saibam que eles serão bobos diante da esperteza dominante, que eles serão
inocentes num meio velhaco, que eles serão ovelhas entre lobos. Mas… ainda
assim, nós colocaremos no mundo meninos e meninas que serão homens e mulheres
honestos, regrados e de olhos brilhando do berço à sepultura. Teremos filhos
que vão sofrer mais do que nós e nossos pais sofreram, porquê o caminho
estreito ainda mais se estreitará. Mas a terra ainda terá em si plantada um
pouco da carne e do sangue que foram feitos para o Céu.
1681.
Quem faz as contas de perdas e ganhos quando deve decidir sobre certo e errado,
já se decidiu moralmente pelo errado. Uma pessoa digna sempre decidirá pelo
certo, ainda que cortando na própria carne, ainda que sendo tomada por
“errada.”
1682.
Não há salvação com idolatria. E nós temos as nossas pequenas idolatrias,
nossos ídolozinhos. Temos que perdê-los ou vê-los de alguma forma perecendo
para não nos apegarmos a estes “amuletos da existência”. Você gasta
horas polindo seu carro? Uma batida na esquina vai colocar a lataria dele no
lugar devido no seu coração. Você exibe para os outros ou para si mesmo seu
novo iPhone? Ele vai cair na piscina ou a tela vai se partir todinha no chão.
Você olha em demasia para seu novo relógio? Ele vai ganhar meia dúzia de riscos
profundos na caixa. Você se jacta da sua coleção de livros, vinhos ou bibelots?
Uma página vai se rasgar e uma gota de café (ou a garrafa toda) vai manchar a
obra magna; uma criança vai derrubar as safras intocadas de 1961 e 1989; um
cachorro vai pular sobre a cristaleira: todos instrumentos de Deus para lhe
afastar daquilo que não é essencial, daquilo que não é a Realidade, daquilo que
lhe afasta das coisas do Alto. Você precisa perder seus ídolos e ver o quanto
eles são frágeis. E você vai perdê-los todos, um a um.
1683.
Moços e moças: não desvirtuem sua fé em nome de carências e choramingos
sentimentais.
1684.
Quanto mais vagabundo, menos tempo se tem. Só escuto a clássica desculpa
“eu não tenho tempo pra nada!” saindo da boca de gente que não está
nem aí para nada. Os trabalhadores ou já estão cheios do que fazer ou espremem
o tempinho sobressaliente para dar um jeito de acrescentar mais uma tarefa à
vida. E eu não estou falando de trabalho-profissão: estou falando da ação
humana que produz grandeza, seja ela abstrata como um tratado filosófico ou
concreta como um concreto bem batido. O filho-da-mãe vai morrer centenário sem
ter produzido sequer uma flatulência mais cheirosa sobre a terra! Isto não é
terrível? É terrível. Esta geração está no bico do urubu!
1685.
Gaste e desgaste sua vida por algo que vale a pena (casamento e família) para
que um dia, quando você estiver velhinho, seja seu filho ou seu neto quem lhe
dê a última colherada de canja quente e bem temperada antes de você se
encontrar com Deus. Temo por vocês que morrerão solitários no asilo ou no
hospital, amparados pela fria obrigação profissional de um cuidador ou de uma
enfermeira e pelo gosto ralo da sopa morna e sem sabor do desgosto…
1686.
Nunca ocupe um lugar que qualquer outra pessoa poderia ocupar. O chão e o galho
são para qualquer ave, mas o pico da montanha pertence à águia. As pombas, os
pardais e os abutres dividem presença no mesmo solo em qualquer lugar do
planeta. Mas quem sobe e plaina sobre o cimo do Everest? O que é só teu tem a
medida exata do teu espírito. O que é para qualquer um, cabe em qualquer um. O
homem ordinário em tudo se iguala aos outros. Mas o homem que arrasta após si
as gentes diverge, diferencia, desiguala: ele afirma a força da própria
personalidade e constrói com Deus o seu lugar no mundo.
1687.
Se alguém preparou sua comida gratuitamente, elogie e fique grato. O gosto na
sua língua pode não ser o melhor para o paladar, mas a palavra na sua língua
tem que ser de gratidão por quem tentou lhe agradar. Não seja imbecil.
1688.
Toda mulher, da mais santa à mais iníqua, tem o desejo da aventura no coração.
Desejo legítimo. Portanto, trate de ser um pouco Dom Quixote, um tanto 007 e um
quanto Indiana Jones. Depois não fique por aí (e por aqui) reclamando se um
Frestão, um Dr. No ou um Belloq levar a morena para brincar de tiro-ao-alvo
nalgum moinho de vento jamaicano. Dispierta, fierro!
1689.
Uma dica: aplique as técnicas lógicas de investigação policial aos fatos
importantes da sua vida, sobretudo aos mais nebulosos, aqueles que você ainda
não chegou a compreender bem. Componha cenários, agentes, descrições, modelos,
enredos, objetos e ambientes. Anote tudo, minuciosamente. Desenhe as hipóteses
e construa as teorias. Você vai se surpreender com os indícios, rastros e
evidências de outras realidades que estão por detrás dos acontecimentos da sua
existência.
1690.
O sono não só descansa o corpo: ele purifica e desembaraça nossa consciência.
Não é raro que eu acorde de repente tendo os meus “eurekas!” —
conclusões certeiras e límpidas sobre as coisas e as pessoas; conclusões que,
acordado, talvez eu não atingisse em nível de compreensão, argúcia e
racionalidade. Quem realmente se importa com a existência trata dela consigo
mesmo até quando ronca. Dorme e pensa. Pensa e acorda. Acorda, repensa e faz. O
sono esclarece a psiquê, ilumina a vigília do inconsciente, anima a alma à
realidade.
1691.
Nada substitui um arroz e um feijão bem feitos. Mais dois ovos fritos e uma
banana e a refeição está completa. Comida na roça é comida de verdade, porquê o
melhor tempero é a fome que se segue ao trabalho.
1692.
Que o teu sim seja o teu sim. Que o teu não seja o teu não. Isto basta.
1693.
Tenho uma teoria. Esta: A verdade não é mera descrição formal da realidade. Ela
é sua própria força de manutenção. De modo que a mentira, então, não é uma
simples oposição abstrata à tal descrição: ela é um enfrentamento energético,
adverso e dialético à toda a estrutura do real. Cada vez que uma mentira é
contada, uma tensão comprime e desestabiliza a própria realidade, deformando-a
temporariamente. Esta tensão, porém, cria uma força de recuo e oposição, como
numa mola, cuja potência necessariamente contra-avança em direção à mentira a
fim de rearmonizar e reequilibrar a realidade. Esta restabilização é, não raro,
explosiva, traumática e, nas palavras do Evangelho, “causa de
escândalo.” Por que? Porquê, como dizem os franceses, “Chassez
le naturel, il revient au galop” | “Expulsai a natureza, ela
voltará à galope.” São Paulo apóstolo resumiu a força restabelecedora
da verdade ao ensinar que “nada podemos contra a verdade, senão pela
verdade.” A verdade é a super-estrutura do super-ser da realidade. A
mentira é uma inadequação artificial que não se encaixa perfeitamente e, por
isto, como micro-engrenagem, dura até que o macro-maquinário lhe estoure.
Mentir é ofender este organismo cujos anticorpos (os acontecimentos) logo
tratarão de esmigalhar a folia e o folião, a fantasia e o fantasiado, a farsa e
o farsante. Deus é o pai da verdade. O diabo, o da mentira. Deus criou tudo. O
diabo, quer recriar o nada. A força que o cosmos ordenador exerce sobre o nada
caótico é a mesma força que a verdade exerce sobre a mentira. Tudo isto para
fazer voz uníssona com o caipira e berrar: mentira tem perna curta! Mas não é
que ela tenha por si perna curta: é que, Procusto às avessas, vem a verdade e
amputa a perna-de-pau até o limite sanguinolento do cotoco…
1694.
A inconsistência interna via de regra procura solidez nas aparências externas.
A falta interior sempre tenta se compensar no excesso exterior. Daí estes
fenômenos de tatuagens intermináveis, corpos excessivamente malhados músculo a
músculo, apego desmedido e ostentatório à marcas e grifes, etc. Falta imaterial
dentro cria presença material fora. São fenômenos do ego, da auto-estima, em
termos psicológicos. Espiritualmente, é idolatria. Essa moça que tatuou o
Bolsonaro e os lemas de sua campanha pelo corpo está doente: precisa de divã e
altar. Orem por ela ao invés de incentivá-la ou ridicularizá-la (ambas atitudes
idiotas).
1695.
Outro dia, tentando traduzir do hebraico um manuscrito cabalístico do século
VIII, li isto: “Deus tem asas azuis, para que voe invisível no
céu.” Agora à tarde, no supermercado, uma menininha de no máximo 6
anos disse pra mãe: “Deus deve pintar as asas de azul para não ser
visto.” É por isto que digo: o gênio autêntico, cheio de beleza e realidade,
se esconde justamente nos cérebros mais ingênuos.